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O Dinossauro - Ordem Livre

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83qualquer outro sentido do que a medida do que é tolerável pelo povo, é realmente incapazde ser avaliada nas grandes nações da Europa — o caminho fica aberto para os sofismas dogerenciamento político moderno, para a manipulação dos corpos eleitorais, para a influênciasobre os organismos eleitos e para os arranjos plebiscitados. Cobban, ele próprio, acabareconhecendo que todo o argumento de Rousseau constitui, na verdade, um enigmaesfingético sem sentido. O professor Hans Barth, de Zurique, também discuteextensivamente o problema da distinção entre Vontade Geral, vontade particular e vontadede todos. Se é o dever do cidadão exprimir sua vontade pessoal e se todos os cidadãosexercem o seu dever da mesma maneira, através de eleições legítimas, o resultado nuncapoderá ser a Vontade Geral mas somente a vontade de uma maioria caprichosa e volúvel.O povo, ao contrário do que postulava Rousseau, pode errar e erra com bastantefrequência. Se Robespierre e Saint-Just deixaram de desvendar o segredo da Vontade Geralfrancesa, em 1794, não nos devemos surpreender se suas cabeças foram eficientementecortadas graças à máquina homicida inventada pelo dr. Guillotin. O fato mesmo que aVontade Geral nem sempre é correta, nem justa, pode ser demonstrado pelos mais ilustresexemplos, colhidos na história da filosofia e da religião. Pois, afinal de contas, o querepresenta um dos mistérios centrais do Cristianismo senão o fato que, diante de PôncioPilatos, o "povo" preferiu Barrabás a Jesus? E o que é o significado transcendente dafilosofia moral, senão o fato de que o povo de Atenas sentenciou Sócrates a beber a cicuta— embora estivesse Sócrates com a razão e Atenas sem ela? Na Apologia, Sócrates declaraperante a assembleia que o está julgando: "Se eu me tivesse comprometido com a política,teria perecido há muito tempo e não vos teria trazido benefício, nem a mim mesmo ...Ninguém que entre em conflito com vós ou com qualquer multidão, lutando honestamentecontra os muitos atos ilegais e injustos que são levados a cabo num estado, salvará sua vida.Aquele que combate por um direito, se quiser viver mesmo por um curto espaço de tempo,deve manter uma situação privada e não pública." A história tem sido reiteradamentetestemunha da justificação do indivíduo contra as massas. Poderemos repetir a prova hojeem dia, ao lembrar o conde von Stauffenberg e o pequeno grupo de soldados e civis queconspiraram contra Hitler em 1944: eles estavam com o direito e a justiça contra a VontadeGeral do povo alemão, naquele momento preciso. E quem hesitaria — a não ser que tenhasacrificado sua consciência ao eu comum da URSS — em se colocar com Solzhenitsyncontra a Vontade Geral da Rússia de Lenine, de Stalin e de Breshnev?J. L. Talmon argumentou, com muita ênfase, no sentido de que a noção mística deuma Vontade Geral antecipa diretamente o sistema de governo das "democracias

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