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O Dinossauro - Ordem Livre

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226Régime. "O folheto oficial sobre as leis fiscais francesas consta de 834 páginas e é tãoobscuro quanto um livro de James Joyce". Como estudo de mentalidade, uma outra obraque merece menção mais demorada e Le mal français (Plon, 1976), do ilustre escritor,jornalista e político, antigo ministro da Justiça no governo de Giscard d'Estaing eatualmente diretor político de Le Figaro, o senhor Alain Peyrefitte. Nessa obra Peyrefitteaponta para a burocracia como um dos itens mais sérios da mentalidade viciosa quedescreve sob o título de "mal francês". O livro, aliás, foi traduzido para o espanhol e oitaliano sob o título O mal latino.Concordo com André Siegfried que o estudo das mentalidades é refreado pelaspróprias mentalidades. A psicologia dos povos não goza de boa reputação, vagamentecontaminada que ficou com as elucubrações racistas de antes da segunda guerra mundial. Éhumilhante e desencorajador admitir que nossos fracassos, defeitos e carências resultam doque temos de mais íntimo e profundo em nossa alma. É tão mais cômodo, quando somosatrasados e subdesenvolvidos, pôr a culpa em cima de alguma circunstância geológica,episódio histórico ou então, melhor ainda, nas costas dos detestáveis imperialistas! Noentanto, com muita coragem, Peyrefitte concentra-se teimosamente no problema das"mentalidades". Procurando escapar à lei dos gêneros, ele oferece ao mesmo tempo umensaio de sociologia, uma pesquisa histórica, um manifesto político e um estudo depsicologia coletiva, esboçando ao final uma terapêutica. Ao desprezar as projeções domaterialismo histórico que procura atribuir este ou aquele mal a esta ou aquela condição denatureza econômica, o autor apresenta um vasto cabedal de exemplos eruditos, ao pesquisaros problemas que o povo francês carrega em si mesmo, por força de suas idiossincrasias,disposições de temperamento e heranças culturais. É uma posição à qual não posso senãooferecer os meus mais entusiásticos aplausos.Os primeiros sintomas já surgem no século XVIII, com a política de centralizaçãode Luís XIV, mas o mal vai crescendo à medida que mudam os regimes. O autor,entretanto, dá ênfase particular como trauma na história da Europa à Reforma e à Contra-Reforma, trauma que lançou uma parte do Ocidente no caminho do desenvolvimento,retendo a outra parte no que ele descreve como uma sociedade hierarquizada e dogmáticade índole romana. Grande parte da obra é constituída pela crítica acerba das "estruturassociais doentias" resultantes do espírito administrativo rígido, centralizador, bloqueado,arcaizante, compulsivo que a França, com suas irmãs latinas, teria herdado da tradiçãocatólica romana. Manifesta aí ser discípulo leal de Max Weber, a quem cita repetidas vezes.Segui o mesmo caminho em meus livros sobre o Brasil, salvo que me parece merecerem

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