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O Dinossauro - Ordem Livre

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227muito menor ênfase os aspectos negativos da herança católica a qual não afetou,diretamente, a nossa vocação para o desenvolvimento, mas nos teria apenas, por omissão,privado de uma ética econômica flexível e criadora, de afirmação terrena, como foi acalvinista, mais favorável ao florescimento da civilização industrial e capitalista moderna.Prefiro falar em "Espírito do Mediterrâneo" do que em espírito romano. Um espírito ao qualcontribuíram árabes e mouros que ocuparam a península. O Espírito do Mediterrâneo,erótico, estetizante, imaginativo, antilógico, pela sua combinação ambivalente de umpatriarcalismo autoritário com um fundo convulsivo de anarquismo antinômico eromântico, explicaria a notória carência de elementos de ordem e liberdade os quais, nospaíses de formação protestante, criaram as condições propícias ao pleno desenvolvimentoda democracia.A França, é bem verdade, não é um país inteiramente latino. O elementogermânico e, inclusive, protestante, desempenha ali um papel muito mais saliente do queentre as outras nações da mesma comunidade linguística e religiosa. Entretanto, éimpressionante como os males a que se refere Peyrefitte são universais na área latina. Nocapítulo 13 e nos que se lhe seguem imediatamente, uma crítica áspera é empreendida dasmotivações de caráter espiritual que prejudicaram o desabrochar entre nós da civilizaçãomoderna, em contraste com o voo das sociedades pragmáticas inspiradas pela Reforma.Embora um capítulo especial seja dedicado à exceção que confirma a regra — qual seja, aatual decadência da Grã-Bretanha, sufocada pelo sindicalismo — Peyrefitte parece muitoclaramente querer atribuir o atraso relativo das nações mediterrânicas a essa espécie derigidez romana, de cunho legalístico, que atinge suas formas de convivência na esferapública.As terceira e quarta partes (capítulos 23 e seguintes) são dedicados a umainvestigação bastante aprofundada do <strong>Dinossauro</strong>, o paquiderme burocrático cujoimobilismo nefasto e ação deletéria pode ser facilmente observado de Roma a BuenosAires, e de Paris a Brasília. É impressionante, na série de anedotas, episódios e incidentesque agraciam o livro, como o autor percebe, no conjunto de disposições mentais que afetamo paternalismo hierarquizante e arcaizante de nossas estruturas administrativas, os pontosde contato que aproximam o mal francês daquele de que sofre o Brasil. Os catalizadores deuma mentalidade econômica estimulante e progressista são também válidos para nós enotamos o de quanto os carecemos, salvo talvez em São Paulo. Do mesmo modo como ofaz Vianna Moog, em seu Bandeirantes e Pioneiros, o autor francês compara os símbolosevangélicos de Marta e Maria — o espírito ativo e o espírito contemplativo — que

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