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O Dinossauro - Ordem Livre

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172possa recorrer à riqueza de interesses, de atores e meios de ação que se encontra na própriasociedade que a diplomacia representa". A proposta era sumamente interessante. Asociedade brasileira é rica de interesses, de atores e de meios de ação. O problema, porém,consiste em saber fazer opções entre aqueles interesses, meios e atores mais capazes deatender às exigências do progresso do país. Isso comporta, inclusive, a necessidade dereprimir os interesses pessoais de atores para os quais a diplomacia representa, não asociedade brasileira, mas um meio de vida sem qualquer responsabilidade, um clubefechado ou mesmo uma simples companhia de turismo. Em viagem que realizei em 1985pelas Europas e América, pude comprovar e reforçar a constatação com a qual mefamiliarizei em mais de 40 anos de carreira: o Itamaraty carrega um enorme peso morto,produzido pela tendência insopitável do país ao empreguismo estatal. A carrière representa,de certo modo, a elite da Nomenklatura brasileira, a fina-flor, o café-soçaite da NovaClasse. Sem desmentir a observação irônica de um velho amigo e colega britânico, paraquem seria o Itamaraty o que de mais próximo a um clube inglês ele encontrou fora daInglaterra — devo admitir que a instituição configura a forma mais elegante e refinada queo Estado-Supermãe ziraldiano inventou para proteger, aquinhoar e alimentar seusfilhotinhos. Em poucas palavras: o Itamaraty dispõe de interesses, de atores e de recursos,mas muito mal distribuídos e aproveitados. O que predomina é o interesse do pessoal, e nãoo da nação. E talvez por isso tanto se fala, em discursos, em defender o interesse nacional.Um exemplo imediatamente ilustra aquilo a que quero chegar. A Nigéria é hoje um dosprincipais mercados do país. Econômica, cultural e eventualmente do ponto de vistapolítico, temos enormes obrigações naquela maior nação da África Ocidental, com a qualnosso comércio em 1984 ultrapassou a casa dos 1,5 bilhões de dólares. A Embaixadabrasileira em Lagos dispõe, contudo, de apenas meia-dúzia de funcionários: trata-se de umchamado "posto de sacrifício" e ninguém deseja para lá ser designado. Posso atestar essasituação pois sofri quase dois anos, como primeiro embaixador em Lagos. Justifica-se que ofuncionalismo diplomático repugne em servir num posto climática e existencialmente tãopouco aprazível. Na Inglaterra, ao contrário, registrei o número de 170 membros daNomenklatura entre diplomatas, adidos de diversas armas e ministérios, militares dascomissões de compra (e venda), funcionários do IBC, IAA, Banco do Brasil, etc, etc Issosem contar o pessoal subalterno, telefonistas, motoristas, guardas, mordomos que recebemtambém em dólares, como justa recompensa dos salários ínfimos que perceberam duranteanos de leal serviço no Brasil. Londres é reconhecidamente uma das maiores cidades ecentros culturais do mundo — e a vida ali oferece atrativos que só o mais tapado burocrata

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