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O Dinossauro - Ordem Livre

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192não for muito fácil de perdoar, não terá gente no Brasil''... não se pode de fato exigir ocumprimento da lei, a ordem no serviço, a presteza do despacho, a pontualidade no horário,a cortesia na janelinha, o método no trabalho, a responsabilidade na decisão — com a praiaou a piscina tão perto, as sereias seminuas tão atraentes, as ondas tão refrescantes. Aparecelogo, dentro de nós mesmos, um fantasminha maroto, evocado como um ectoplasma pelamediunidade da Maria Candelária, que gritará como o fez Macunaíma logo ao nascer: "Ai,que preguiça! Diabo que leve quem trabalha"...Desde muito cedo foi o governo do Brasil bom-moço e complacente, na terraabençoada do "homem bom". Há que perdoar o crime, abafar o escândalo, fechar os olhosperante a irresponsabilidade, esquecer o deslize, readmitir os demitidos, anistiar osterroristas, deixar aberto o ponto, não perturbar o boçal nem sacudir o indolente. Não sedeve punir, aposentar, demitir, pois isso é antipático, impopular. Mais vale nomear,promover, conceder férias e licenças, aumentar os vencimentos e outorgar novasgratificações: é mais simpático, gera popularidade e atrai o voto. O homem cordial anseiapela popularidade e exala simpatia. O melhor que há a fazer na repartição é esperarpacientemente em ótimo bate-papo. Se o serviço público é composto de 50% pelo menos defuncionários que não fazem absolutamente nada, a não ser obter seu sustento mensal daprodigalidade de um Tesouro inflacionário e da tolerância de uma administraçãomunificente — não nos devemos preocupar porque Deus é brasileiro e vai resolver todos osproblemas!* * *Para ilustrar os problemas da burocracia em nossa terra, me permito, com a devidavênia dos leitores condescendentes, relembrar um dos períodos mais lamentáveis de minhacarreira burocrática, que consistiu na passagem de pouco mais de dois anos pelo Ministérioda Educação e Cultura (1971-73). Qualquer pessoa que tenha transitado pelo serviçopúblico terá sofrido experiências semelhantes ou piores. Meu relato visa apenas instruir asverdadeiras circunstâncias amiúde enfrentadas numa repartição que, seja dito a bem daverdade, é uma das mais mediocremente organizadas da administração federal. Comeceiminhas atividades no MEC ostentando o título de presidente da Comissão de RelaçõesInternacionais. Era missão da mesma Comissão assegurar os contatos com a UNESCO eoutros organismos internacionais: hoje em dia quase todos os ministérios, em Brasília,possuem órgãos paralelos, frequentemente ocupados por diplomatas e destinados a atender

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