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O Dinossauro - Ordem Livre

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190muita agitação, debates, às vezes uma confusão generalizada.A combinação do desejo de se dar ares de importância com a relutância em tomardecisões, em seu próprio nível, tem como consequência a pressão tremenda exercida nosentido de empurrar todos os expedientes para cima, para os ministros de Estado e para opresidente da República. O ministro Passarinho, quando tomou posse no Ministério daEducação, descobriu que nada menos de 77 pessoas despachavam diretamente com oministro: "Napoleão, que era um gênio, despachava apenas com sete. Mas a diretora doMuseu Villa-Lobos também não abria mão de seus direitos: só despachava com o ministro".O ministro também descobriu que devia assinar até os aceites para que um material escolarfosse desembarcado no porto. Se não assinasse, a Universidade responderia pelos custos. Oque tudo isso quer dizer é que os trâmites que sofre um expediente na máquina burocráticae a sorte que lhe é reservada nos escalões da hierarquia não dependem de sua importânciaintrínseca, mas são determinados pelo prestígio relativo do funcionário que dele ficaencarregado. Se se trata de um abacaxi, o expediente é imediatamente expelido. Se não valepara realçar a importância do funcionário, é engavetado. Mas se pode servir para "despachocom o ministro", então é imediatamente aureolado de um conteúdo místico. Em relação àparte, o que vale é o futebol: o burocrata inteligente é aquele que sabe driblar o interessado.Pelé é sempre promovido...Para defender o status dos altos funcionários, a burocracia criou uma série deintermediários, o principal dos quais é o "chefe de gabinete". A função desse éessencialmente a do cão Cérbero: barrar a entrada. Sobretudo aos chatos. Ai daquele quenão possa colocar com suficiente ênfase e força de convicção, para penetrar no augustorecinto, a clássica pergunta: "O senhor sabe com quem está falando?"... Uma outra classe deintermediários é o despachante. Trata-se de um prodígio biológico: o parasita dos parasitas.Quando não se pode recorrer a esse espécime burocrático, há que utilizar uma das técnicasespeciais de penetração na burocracia. O funcionalismo criou o que já foi chamado "aindústria de dificuldades para vender facilidades". Contra essa indústria, o recurso é o jeito.O trêfego e vivo Macunaíma, manhoso e cheio de velhacarias, aparece com seu saco desurpresas que sugerem a saída com uma brilhante sugestão salvadora. Toda a técnicapegajosa e açucarada do Eros é então utilizada para impô-la à situação, sobrepujando oobstáculo. A relação pessoal que se estabelece entre o funcionário e a parte sobrepõe-se aodispositivo legal ou à inércia burocrática. Eros vence Anankê, a necessidade. É o jeitinho...O húngaro Peter Kellemen, em seu divertido livrinho Brasil para principiantes,conta-nos a sua primeira experiência com autoridades brasileiras e com a nossa noção

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