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Assassin's Creed - Unity - Oliver Bowden

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Aconteceu no convento. Eu tinha apenas 5 anos quando entrei ali pela primeira vez, e

minhas lembranças do lugar estão longe de serem claras. Apenas impressões, na verdade:

longas fileiras de camas; uma lembrança nítida mas ligeiramente desconexa de olhar por

uma janela coroada de geada e de ver a copa das árvores erguendo-se acima de margens

ondulantes de neblina, e... a madre superiora.

Recurvada e amargurada, a madre superiora era conhecida por sua crueldade. Vagava

pelos corredores do convento com sua vara nas palmas como se a apresentasse em um

banquete. Em sua sala, a vara ficava sobre a mesa. Na época falávamos em ser a “sua vez”,

e por um tempo fora a minha, quando ela detestava meus esforços para ser feliz, invejava

o fato de eu ser de riso fácil, sempre atribuindo malícia a meu sorriso feliz. A vara, dizia

ela, arrancaria aquele sorrisinho malicioso do meu rosto.

A madre superiora tinha razão. Arrancou mesmo. Por um tempo.

E então, um dia, meus pais chegaram para ver a madre superiora, não sei por que

motivo, e fui chamada à sala a pedido deles. Ali encontrei meus pais virados em suas

cadeiras para me receber, a madre superiora de pé atrás de sua mesa, com a habitual

expressão de desdém indisfarçado no rosto, uma franca avaliação de meus muitos defeitos

acabando de secar em seus lábios.

Se apenas minha mãe tivesse ido me ver, eu não teria sido tão formal. Teria corrido a

ela e esperado poder me enfiar entre as dobras de seu vestido, adentrando outro mundo,

longe daquele lugar horrível. Mas eram os dois, e meu pai era meu rei. Era ele quem

ditava a que cortesias obedeceríamos; para começar, fora ele quem insistira para que eu

fosse colocada no convento. Assim, aproximei-me, fiz uma mesura e esperei que se

dirigissem a mim.

Minha mãe puxou minha mão. Como conseguira notar o que havia ali, nem imagino,

pois estava junto ao meu corpo, mas de algum modo ela teve vislumbres das marcas

deixadas pela vara.

— O que é isto? — Ela exigiu saber da madre superiora, estendendo minha mão a ela.

Eu nunca tinha visto a madre superiora com uma aparência aquém de composta. Mas

ali a vi empalidecer. Num instante, minha mãe deixou de ser decorosa e cortês, justamente

o que se esperava de uma convidada da madre superiora, e tornou-se um instrumento de

fúria potencial. Todos nós sentimos isto. Sobretudo a madre superiora.

Ela titubeou um pouco.

— Conforme eu dizia, Élise é uma menina voluntariosa e perturbadora da ordem.

— E por isso ela é espancada? — perguntou incisivamente minha mãe, a raiva

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