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Assassin's Creed - Unity - Oliver Bowden

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A Christian localizava-se em uma das ruas mais salubres de Paris, longe de nosso

château na Île Saint-Louis. Ainda assim, tudo é relativo e eu me via prendendo a

respiração enquanto nos ajudavam a sair do interior confortável e do cheiro fragrante de

nossa carruagem, e pisávamos na rua barulhenta e agitada, tomada pelo som de berros,

cascos de cavalos e pelo constante retumbar das rodas de carruagem. O som de Paris.

Acima de nós, mulheres se inclinavam de braços cruzados nas janelas e observavam o

mundo passar. Ladeando a rua, havia barracas que vendiam frutas e tecidos, carrinhos de

mão guarnecidos com pilhas altas de produtos e manejados por homens e mulheres de

avental que imediatamente nos chamavam aos gritos.

— Madame! Mademoiselle!

Meu olhar foi atraído para as sombras, à beira da rua, onde vi rostos pálidos na

penumbra e imaginei ter visto fome e desespero naqueles olhos que nos observavam com

reprovação e avidez.

— Venha comigo, Élise — pediu minha mãe, e segurei as saias, como ela fazia,

andando cautelosamente pela lama e excremento sob nossos pés, daí fomos conduzidas à

Christian pelo proprietário.

A porta bateu às nossas costas, o mundo exterior ignorado. Um ajudante de loja se

ocupou de nossos pés com um pano e em instantes era como se nunca tivéssemos feito

aquela travessia perigosa, aquela curta distância entre nossa carruagem e a porta de uma

das lojas de calçados mais exclusivas de Paris.

Christian usava uma peruca branca amarrada atrás por uma fita preta, além de

sobrecasaca e calções brancos. Era a perfeita aproximação de alguém entre o nobre e o

lacaio, que era como ele se via na pirâmide social. Ele gostava de dizer que estava em seu

poder fazer as mulheres se sentirem bonitas, que este era o maior poder que um homem

possuía. Entretanto, para ele, minha mãe ainda era um enigma, como se fosse a única

cliente sobre a qual seu poder não tivesse efeito. De fato não tinha mesmo e eu sabia por

quê. Era porque outras mulheres simplesmente viam os sapatos como tributos à própria

vaidade, enquanto mamãe os adorava como objetos de beleza.

Christian, porém, ainda não havia chegado a esta conclusão e, assim, todas as visitas

eram marcadas pelas gafes dele.

— Veja, madame — disse ele, apresentando-lhe um par de chinelos enfeitados com

uma fivela —, toda dama que passa por esta porta fica de joelhos bambos à mera visão

desta nova criação primorosa, entretanto só Madame de la Serre tem os tornozelos belos

o suficiente para lhes fazer justiça.

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