Tese de Mestrado DCI.pdf - UTL Repository
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ajuda gradual e faseada que seja direccionada para os países mais pobres e não<br />
para os países com maiores atractivos comerciais e geográficos 388 .<br />
Além das esferas política e económica, não <strong>de</strong>ve ser ignorada a esfera social.<br />
Parece ser consensual a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as populações <strong>de</strong>vem ser envolvidas na<br />
reconstrução do país, pois só assim, explica SUMMERFIELD (1996:88), serão<br />
mantidas as funções <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> pacífica e o espaço social que<br />
possibilitem, por sua vez, a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
social. Sem perceber esta dimensão social, explica o autor, a ajuda po<strong>de</strong><br />
fracassar num contexto <strong>de</strong> guerra e, em vez <strong>de</strong> fortalecer as populações, po<strong>de</strong><br />
perturbá-las.<br />
Parece-nos que <strong>de</strong>vem ser repensadas as priorida<strong>de</strong>s das agências <strong>de</strong> ajuda,<br />
<strong>de</strong>stacando-se a importância da actuação da socieda<strong>de</strong> civil e organizações locais,<br />
relegando para segundo plano o protagonismo dos projectos que ignoram os<br />
recursos locais, <strong>de</strong>signadamente os recursos humanos locais. Além disso, talvez<br />
seja mais eficaz o financiamento ou co-financiamento <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong><br />
organizações locais em <strong>de</strong>trimento dos projectos concebidos e executados por<br />
ONGs ou OIs estrangeiras, na medida em que aqueles po<strong>de</strong>rão garantir maior<br />
sustentabilida<strong>de</strong> após o final do projecto e também, po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>ixar uma melhor<br />
herança em termos <strong>de</strong> know-how aos locais 389 .<br />
Além dos critérios atrás referidos, parece-nos fundamental condicionar os<br />
volumes <strong>de</strong> ajuda às necessida<strong>de</strong>s reais do terreno e também ao <strong>de</strong>senrolar da<br />
dinâmica do conflito, <strong>de</strong>vendo impor-se incentivos à paz e <strong>de</strong>sincentivos à guerra<br />
tal como foram sugeridos por UVIN (2001). Esse condicionamento parece-nos<br />
imperativo ao nível do controlo das <strong>de</strong>spesas militares do Governo.<br />
Na transição pós-conflito, a ajuda é também fundamental, <strong>de</strong>vendo manter-se no<br />
país durante toda a primeira década após o fim da guerra, até porque nos<br />
388 A ajuda <strong>de</strong>ve ser dirigida justamente aos países <strong>de</strong> maior risco, mais pobres, com políticas fracas e<br />
maus governos. O problema, sublinham COLLIER et al. (2003), é que historicamente os programas<br />
convencionais <strong>de</strong> ajuda não tiveram êxito nesses países on<strong>de</strong> as falhas têm que ser corrigidas.<br />
389 No caso do Sri Lanka, e extrapolando para a situação da ajuda a uma catástrofe natural (o Tsunami que<br />
afectou as zonas costeiras do Leste e do Sul do país em Dezembro <strong>de</strong> 2004), a reabilitação <strong>de</strong>verá passar<br />
pela socieda<strong>de</strong> civil e pelas organizações locais. Nas pequenas comunida<strong>de</strong>s afectadas, muitos homens<br />
viviam da pesca e as mulheres da costura, tendo perdido os seus meios <strong>de</strong> subsistência. Talvez a ajuda<br />
<strong>de</strong>va passar pelo apoio as estas populações na obtenção dos seus meios <strong>de</strong> trabalho, por forma a que<br />
possam progressivamente restabelecer a sua vida.<br />
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