Tese de Mestrado DCI.pdf - UTL Repository
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excluem aqueles que, sem per<strong>de</strong>r a vida, foram vítimas <strong>de</strong> atrocida<strong>de</strong>s<br />
inimagináveis, foram atingidos por minas anti-pessoais ou viram-se forçados a<br />
<strong>de</strong>slocar-se para outra região do país ou para países vizinhos.<br />
A título exemplificativo, SMITH (2003:40-41) refere que, em Timor Leste, cerca<br />
<strong>de</strong> 2000 civis foram assassinados pelas milícias instigadas pela Indonésia em<br />
1999, antes <strong>de</strong> ser aceite a in<strong>de</strong>pendência do país, e que 2/3 foram forçados a<br />
abandonar as suas casas. No Ruanda, os extremistas do Governo Hutu<br />
prepararam um massacre contra a minoria Tutsi e contra os opositores do regime<br />
entre Abril e Junho <strong>de</strong> 1994, tendo sido mortas pelas milícias e por forças<br />
militares treinadas, num período <strong>de</strong> seis semanas, 800.000 pessoas. Daqueles<br />
que sobreviveram ao genocídio, praticamente todas as mulheres com mais <strong>de</strong> 12<br />
anos foram violadas. Finalmente, no Perú, entre 1980 e 1999, morreram mais <strong>de</strong><br />
30.000 pessoas <strong>de</strong>vido à guerra, sendo mais <strong>de</strong> 80% civis. Neste caso, o<br />
Governo foi responsável por pouco mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos casos <strong>de</strong> tortura,<br />
<strong>de</strong>saparecimento, execução e assassinato, e as forças rebel<strong>de</strong>s pelo restante.<br />
Como já foi dito, a guerra civil po<strong>de</strong> ser um catalisador do progresso social,<br />
permitindo pôr fim a uma situação <strong>de</strong> injustiça social e <strong>de</strong> estagnação política e<br />
económica. Nestes casos, os rebel<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m argumentar que os terríveis custos<br />
da guerra são um mal necessário para se conseguirem melhorias futuras. No<br />
entanto, a realida<strong>de</strong> mostra-nos que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>sses eventuais<br />
benefícios futuros, a guerra <strong>de</strong>ixa sempre um legado <strong>de</strong> pobreza e miséria que<br />
tem como principais vítimas as populações do país.<br />
O aumento das taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> morbidida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser explicado, <strong>de</strong><br />
acordo com as referências <strong>de</strong> COLLIER et al.(2003), pelas doenças infecciosas<br />
nos campos <strong>de</strong> refugiados, bem como pelos efeitos psicológicos nas vítimas.<br />
As doenças terão sido, algumas vezes, usadas como arma <strong>de</strong> guerra. O recurso à<br />
violação das mulheres pelos soldados infectados com o HIV/Sida é apontado<br />
como um instrumento sistemático do estado <strong>de</strong> guerra. Segundo COLLIER et al.<br />
(2003:28), o contágio é também feito <strong>de</strong> mães para filhos, já que, <strong>de</strong>vido à falta<br />
<strong>de</strong> alimentos, as mães não têm outra alternativa senão dar <strong>de</strong> mamar aos filhos, o<br />
que aumenta o risco <strong>de</strong> infecção da nova geração.<br />
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