Tese de Mestrado DCI.pdf - UTL Repository
Tese de Mestrado DCI.pdf - UTL Repository
Tese de Mestrado DCI.pdf - UTL Repository
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sub<strong>de</strong>senvolvimento é uma causa do conflito? Ou será o conflito violento o<br />
resultado <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento?<br />
GLEDITSH et al. (2003) sistematizaram quatro perspectivas <strong>de</strong>ssa relação: (1) o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento como um processo inerentemente conflituoso, (2) o<br />
sub<strong>de</strong>senvolvimento como uma causa do conflito, (3) os custos do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento provocados pelo conflito, (4) o conflito como um catalisador<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento e para a construção da paz.<br />
A primeira perspectiva consi<strong>de</strong>ra que o conflito violento faz parte do processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento, à semelhança do que aconteceu durante a formação dos<br />
Estados Europeus. Esta é a posição da economia política clássica marxista que<br />
explica o conflito pelas contradições inerentes aos modos <strong>de</strong> produção. No<br />
entanto, os autores relembram a diferença entre conflito potencial e conflito real<br />
que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> económica. Esta é a posição<br />
<strong>de</strong>fendida pela literatura tradicional da guerra e da revolução que ilustra o<br />
significado <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nas guerras civis da América Central, nas lutas<br />
pela in<strong>de</strong>pendência em África e na revoluções europeias e asiáticas 83 .<br />
A segunda perspectiva consi<strong>de</strong>ra o sub<strong>de</strong>senvolvimento uma causa do conflito,<br />
uma vez que o conflito violento ocorre com maior probabilida<strong>de</strong> em países<br />
pobres e menos em Estados <strong>de</strong>mocráticos e <strong>de</strong>senvolvidos. No entanto, essa<br />
correlação é ainda ambígua, na medida em que não só as <strong>de</strong>mocracias oci<strong>de</strong>ntais<br />
parecem estar envolvidas na guerra tanto quanto os outros países, como as suas<br />
intervenções são tipicamente levadas a cabo em ou contra PED que não têm<br />
instituições <strong>de</strong>mocráticas 84 .<br />
NEWBURY (1988) 85 argumentava mesmo que os baixos níveis <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento económico po<strong>de</strong>m proporcionar socieda<strong>de</strong>s estáveis,<br />
principalmente não <strong>de</strong>mocráticas, na medida em que estabelecem a “coesão da<br />
83 É o caso <strong>de</strong> GURR et al.. (1991), “Revolutions of the Late Twentieth Century”; PAIGE (1975),<br />
“Agrarian Revolution: Social Movements and Export Agriculture in the Un<strong>de</strong>r<strong>de</strong>veloped World”; SCOTT<br />
(1976), “Moral Economy of the Peasant: Rebellion and Subsistence in South East Asia”; SKOCPOL<br />
(1979), “States and Social Revolutions: A Comparative Analysis of France, Russia and China”; e<br />
ZOLBERg et al. (1989), “Escape from Violence: Conflict and the Refugee Crisis in the Developing<br />
World”, autores apontados por GLEDITSH et al.. (2003).<br />
84 GLEDITSH et al. (2003), p.5.<br />
85 “The Cohesion of Oppression: Clientship and Ethnicity in Rwanda, 1860-1960” in GLEDITSCH et al.<br />
(2003).<br />
60