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A construção do Programa Estadual de Educação Ambiental

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Ele reelabora a discussão da problemática leninista da hegemonia e traz à<br />

superfície a centralida<strong>de</strong> da “tarefa educativa e formativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, cujo fim é sempre<br />

o <strong>de</strong> criar tipos novos e mais eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> civilização, <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar a “civilização” e a<br />

moralida<strong>de</strong> das mais amplas massas populares às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> contínuo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> aparelho econômico <strong>de</strong> produção” (GRAMSCI, 2002, p. 23).<br />

Assim, procuran<strong>do</strong> examinar as formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> na esfera da produção material<br />

da vida, sem per<strong>de</strong>r a dimensão econômica da hegemonia - on<strong>de</strong> ela concretamente se<br />

expressa -, Gramsci vai pensar a hegemonia como a capacida<strong>de</strong> que uma fração <strong>de</strong><br />

classe tem <strong>de</strong> dar direção intelectual-moral sobre o conjunto <strong>do</strong> bloco histórico e forjar a<br />

formação <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> social ético-política.<br />

Christine Buci-Glucksmann <strong>de</strong>clara que o pensa<strong>do</strong>r italiano vai ter como pivô <strong>de</strong><br />

sua reflexão a surpreen<strong>de</strong>nte resistência <strong>do</strong> aparelho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, própria às socieda<strong>de</strong>s<br />

oci<strong>de</strong>ntais 8 , nos países capitalistas <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s. A ponto <strong>de</strong> obrigá-lo a “pensar uma<br />

nova via para o socialismo nesse tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, na qual as ‘reservas<br />

organizacionais’ das classes <strong>do</strong>minantes são (em perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise) sempre maiores <strong>do</strong><br />

que se po<strong>de</strong>ria suspeitar” (BUCI-GLUCKSMANN, 1980, p. 27). A existência <strong>de</strong><br />

organizações estatais e diversas associações na vida civil que funcionam como<br />

“trincheiras” das classes <strong>do</strong>minantes nesses países, leva-o a compreen<strong>de</strong>r que a<br />

problemática da revolução se transformara e que, embora não <strong>de</strong>scartada, “a guerra <strong>de</strong><br />

movimentos torna-se cada vez mais guerra <strong>de</strong> posição” (GRAMSCI, 2002, p. 24).<br />

À medida que aprofunda seus estu<strong>do</strong>s sobre a característica específica <strong>do</strong><br />

capitalismo que está se consolidan<strong>do</strong> nos anos 20 ele incorpora à sua reflexão a temática<br />

<strong>do</strong> americanismo. “Na América, a racionalização <strong>de</strong>terminou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar<br />

um novo tipo humano, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao novo tipo <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> processo produtivo: esta<br />

8 Gramsci diferencia as socieda<strong>de</strong>s como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> tipo oci<strong>de</strong>ntal ou oriental. Numa nota célebre, ele<br />

afirma: “No Oriente, o Esta<strong>do</strong> era tu<strong>do</strong>, a socieda<strong>de</strong> civil era primitiva e gelatinosa; no Oci<strong>de</strong>nte, entre<br />

Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil havia uma justa relação e, quan<strong>do</strong> se dava um abalo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, percebia-se<br />

imediatamente uma robusta estrutura da socieda<strong>de</strong> civil. O Esta<strong>do</strong> era apenas uma trincheira avançada,<br />

por trás da qual havia uma robusta ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fortalezas e casamatas” (GRAMSCI apud COUTINHO,<br />

2007b, p. 208). Percebida como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um processo histórico, a progressiva “oci<strong>de</strong>ntalida<strong>de</strong>” <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminada formação social <strong>de</strong>mandava por consequencia a mudança na estratégia <strong>do</strong>s movimentos<br />

operários, segun<strong>do</strong> o autor <strong>do</strong>s Ca<strong>de</strong>rnos <strong>do</strong> Cárcere. Numa interessante análise, Coutinho (2007) mostra<br />

como em diferentes momentos da história nacional, alternam-se no Brasil perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> “oci<strong>de</strong>ntalização”<br />

com perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> crescente ativida<strong>de</strong> coercitiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> ditaduras sem hegemonia ganham<br />

corpo no país. Segun<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> autor, com a crise <strong>do</strong> “milagre econômico”, o mínimo <strong>de</strong> consenso<br />

necessário para governar conquista<strong>do</strong> pela ditadura nascida <strong>do</strong> golpe <strong>de</strong> 1964 começa a se <strong>de</strong>smanchar,<br />

inclusive entre setores da burguesia que apoiaram o golpe e se beneficiaram com o capitalismo<br />

monopolista <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> que este propiciou. Isto marca um novo fortalecimento <strong>do</strong>s aparelhos da socieda<strong>de</strong><br />

civil, o que o leva a sustentar que o Brasil <strong>de</strong> hoje é uma socieda<strong>de</strong> “oci<strong>de</strong>ntal”. Igualmente interessante é<br />

a apropriação pelo autor <strong>do</strong>s conceitos gramscianos <strong>de</strong> “revolução passiva” e “transformismo” para a<br />

explicação <strong>do</strong>s processos pelos quais a burguesia brasileira levou a cabo sua “revolução” no século XX.<br />

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