O Primo Basílio - Unama
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Porque a intervenção de Sebastião, no fundo, irritava-a mais que os<br />
mexericos da vizinhança! A sua vida, as suas visitas, o interior da sua casa era<br />
discutido, resolvido por Sebastião, por Julião, por tutti quanti! Aos vinte e cinco anos<br />
tinha mentores! Não estava má! E por quê, Santo Deus? Porque seu primo, o seu<br />
único parente vinha vê-la!...<br />
Mas então, de repente, emudecia interiormente. Lembravam-lhe os olhares<br />
de <strong>Basílio</strong>, as suas palavras exaltadas, aqueles beijos, o passeio ao Lumiar. A sua<br />
alma corava baixo, mas o seu despeito seguia declamando alto: — decerto, havia<br />
um sentimento, mas era honesto, ideal, todo platônico!... Nunca seria outra coisa!<br />
Podia ter lá dentro, no fundo, uma fraqueza... Mas seria sempre uma mulher de<br />
bem, fiel, só de um!...<br />
E esta certeza irritava-a então contra os palratórios da rua! Que de resto era<br />
lá possível, que só por verem entrar <strong>Basílio</strong>, quatro ou cinco vezes, às duas horas da<br />
tarde, começassem logo a murmurar, a cortar na pele?... Sebastião era um caturra,<br />
com terrores de ermitão! E que idéia, ir consultar Julião! Julião! Era ele, decerto, que<br />
o instigara a vir pregar, assustá-la, humilhá-la!... Por quê? Azedume, inveja! Porque<br />
<strong>Basílio</strong> tinha beleza, toalete, maneiras, dinheiro!... Se tinha!<br />
As qualidades de <strong>Basílio</strong> apareciam-lhe então magníficas e abundantes<br />
como os atributos de um deus. E estava apaixonado por ela! E queria vir viver junto<br />
dela! O amor daquele homem, que tinha esgotado tantas sensações, abandonado<br />
decerto tantas mulheres, parecia-lhe como a afirmação gloriosa da sua beleza e a<br />
irresistibilidade da sua sedução.<br />
A alegria que lhe dava aquele culto trazia-lhe o receio de o perder. Não o<br />
queria ver diminuído; queria-o sempre presente, crescendo, balouçando sem cessar<br />
diante dela, o murmúrio lânguido das ternuras humildes! Podia lá separar-se de<br />
<strong>Basílio</strong>! Mas se a vizinhança, as relações começavam a comentar, a cochichar...<br />
Jorge podia saber!... Aquela suposição o coração arrefecia-lhe... — Sebastião tinha<br />
razão, no fundo, era evidente!<br />
Numa rua pequena, com doze casas, vir todos os dias, aquele lindo rapaz, e,<br />
agora que seu marido não estava... Era terrível! — Que havia de fazer, Santo<br />
Deus!...<br />
A campainha retiniu com força; Leopoldina entrou.<br />
Vinha furiosa com o cocheiro; que imaginasse ela, hein! Tinha parado ao<br />
Correio e o homem queria duas corridas. Uma canalha assim!...<br />
E que calor, uf! — Atirou a sombrinha, as luvas; agitou as mãos no ar para<br />
descer o sangue, dando-lhes palidez; e diante do toucador, compondo ligeiramente<br />
os frisados do cabelo, com uma cor na pele, muito espartilhada, admirável corpete<br />
couraçado:<br />
— Que tens tu, filha? Estás toda no ar!<br />
Nada. Tinha-se zangado com as criadas...<br />
— Ai! Estão insuportáveis! — Contou as exigências da Justina, os seus<br />
desmazelos. — E muito agradecida ainda que ela se me não vá! Quando a gente<br />
depende delas... — E pondo pó-de-arroz no rosto, com uma voz lenta: — Lá o meu<br />
senhor foi para o Campo Grande. Eu estive para ir jantar fora com...— Suspendeu-se,<br />
sorriu, e voltada para Luísa, mais baixo, com um tom alegre, muito sincero: — Mas<br />
olha, a falar a verdade, nem sabia onde, nem tinha dinheiro... Que ele coitado com a<br />
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