O Primo Basílio - Unama
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Conversava-se; e uma mulher de trinta anos, picada das bexigas, que<br />
estava sentada no canapé, depois de ter dado um sorriso a Juliana, continuou,<br />
voltada para uma gordita com um xale de quadrados vermelhos:<br />
— Pois não imagina, Sra. Ana, não faz idéia! É uma desgraça! É todas as<br />
noites como um carro. As vezes até acordo com o barulho que ele faz a falar só, a<br />
tropeçar na escada... Eu, do que tenho mais medo, é que o demônio adormeça com<br />
a luz e haja um rogo. Ah! É de todo!<br />
— Quem? — perguntou um rapazola bonito, com uma blusa de trintanário,<br />
que falava de pé a um criado alto, de suíças e gravata branca enxovalhada.<br />
— O Cunha, o filho do meu patrão. É uma desgraça!<br />
— Piteireiro, hein? — disse o rapazola, enrolando o cigarro.<br />
— Um horror! Eu pela manhã nem posso entrar no quarto, que é um cheiro.<br />
A mãe, coitadinha, chora, rala-se; o rapaz já esteve para ser posto fora do emprego.<br />
Ai! Não estou nada contente, nada contente!<br />
— Pois olhe que por lá também há desgosto grande — disse, baixando a<br />
voz, a do xale de quadrados.<br />
Os dois homens aproximaram-se.<br />
— O senhor — continuou ela com gestos aterrados — é um desaforo com a<br />
cunhada!... A senhora sabe, e aquilo são questões de dia e de noite! As duas irmãs<br />
andam numa bulha pegada. O homem toma as dores da rapariga; a mulher põe-se<br />
aos gritos... Ai! Aquilo vem a acabar mal!<br />
— E então se a gente tem lá o seu descuido — disse o da gravata branca<br />
com indignação — é aqui del rei, e daqui e dali!<br />
— Lá a sua gente é sossegada, Sr. João — observou a picada das bexigas.<br />
— É boa gente. As raparigas namoradeiras... Proveito das criadas, apanham<br />
o seu vestido, a sua placa... Mas os velhotes é uma santa gente, a verdade é a<br />
verdade! E come-se bem!<br />
E voltando-se para o trintanário, batendo-lhe no ombro, com uma voz que o<br />
admirava e que o invejava:<br />
— Mas isto sim! Isto é que é levá-la! O rapazola sorriu com satisfação:<br />
— Ora! São mais as vozes do que as nozes!<br />
— Vá lá, mostra lá — disse o da gravata branca tocando-lhe com o cotovelo<br />
—, mostra lá!<br />
O rapaz fez-se rogado, e depois de gingar da cintura, arregaçando a blusa,<br />
tirou do bolso do colete de riscadinho um relógio de ouro.<br />
— Muito bonito! Rica prenda! — disseram as duas mulheres.<br />
— Suor do meu rosto — fez ele, acariciando o queixo.<br />
O da gravata branca indignou-se:<br />
— Ora seu maroto! — E baixo para as raparigas: — Suor do seu rosto, hein!<br />
— É o serafim da patroa, uma senhora da alta que aquilo são tudo sedas,<br />
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