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O Primo Basílio - Unama

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— Pois sim, mas fala tu a essa mulher, fala-lhe tu, arranja tudo. Eu não a<br />

quero tornar a ver. Se a vejo, morro, acredita. Fala-lhe tu!<br />

<strong>Basílio</strong> recuou vivamente, e batendo com o pé:<br />

— Estás doida, mulher! Se eu lhe falo, então pede tudo, então pede-me a<br />

pele! Isso é contigo. Eu dou-te o dinheiro, tu arranja-te!<br />

— Nem isso me fazes?<br />

<strong>Basílio</strong> não se conteve:<br />

— Não! Com os diabos, não!<br />

— Adeus!<br />

— Tu estás fora de ti, Luísa!<br />

— Não. A culpa é minha — dizia, descendo o véu com as mãos trêmulas eu<br />

é que devo arranjar tudo!<br />

E abriu a porta. <strong>Basílio</strong> correu a ela, prendeu-a por um braço.<br />

— Luísa, Luísa! O que queres tu fazer? Não podemos romper assim! Escuta...<br />

— Fujamos então, salva-me de todo! — gritou ela, abraçando-o ansiosamente.<br />

— Caramba! Se te estou a dizer que não é possível!<br />

Ela atirou com a porta, desceu as escadas correndo. O cupê esperava-a.<br />

— Para o Rossio — disse.<br />

E deitando-se para o canto da carruagem, rompeu a chorar, convulsivamente.<br />

<strong>Basílio</strong> saiu do Paraíso muito agitado. As pretensões de Luísa, os seus<br />

terrores burgueses, a trivialidade reles do caso, irritavam-no tanto, que tinha quase<br />

vontade de não voltar ao Paraíso, calar-se, e deixar correr o marfim! Mas tinha pena<br />

dela, coitada! E depois, sem a amar, apetecia-a; era tão bem feita, tão amorosa; as<br />

revelações do vício davam-lhe um delírio tão adorável! Um conchegozinho tão<br />

picante enquanto estivesse em Lisboa... Maldita complicação! Ao entrar no hotel,<br />

disse ao seu criado:<br />

— Quando vier o senhor Visconde Reinaldo, que vá ao meu quarto.<br />

Estava alojado no segundo andar, com janelas para o rio. Bebeu um cálice<br />

de conhaque e estirou-se no sofá. Ao pé, na jardineira, tinha o seu bufar com um<br />

largo monograma em prata sob a coroa de conde, caixas de charutos, os seus livro<br />

— Mademoiseile Giraud, ma femme; La vierge de Mabilie; Ces friponnes!; Mémoires<br />

secrètes d'une femme de chambre; Le chien d'arrêt; Manuel du chasseur, números<br />

do Fígaro, a fotografia de Luísa, e a fotografia de um cavalo.<br />

E soprando o fumo do charuto, começou a considerar, com horror, a<br />

"situação"! Não lhe faltava mais nada senão partir para Paris, com aquele<br />

trambolhozinho! Trazer uma pessoa, havia sete anos, a sua vida tão arranjadinha, e<br />

patatrás! Embrulhar tudo, porque à menina lhe apanharam a carta de namoro e tem<br />

medo do esposo! Ora o descaro! No fim, toda aquela aventura desde o começo fora<br />

um erro! Tinha sido uma idéia de burguês inflamado ir desinquietar a prima da<br />

Patriarcal. Viera a Lisboa para os seus negócios; era tratá-los, aturar o calor e o<br />

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