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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

boa ama. Mas que lhe andassem direitas! Desmazelos, más respostas, não havia de<br />

sofrer a criadas! — E, impelida por aquelas imaginações, arrastava sutilmente as<br />

chinelas pelo quarto, falando só. — Não, desmazelos, não havia de Sofrer! Mantêlas<br />

bem, decerto, porque quem trabalha precisa meter para dentro! Mas havia de lho<br />

tirar do corpo. Ah! Lá isso, haviam de lhe andar direitas... A velha tinha então um<br />

gemido mais aflito.<br />

— "É agora!" — pensava. — "Morre!"<br />

E o seu olhar ansioso ia logo para a gaveta da cômoda, onde estava decerto<br />

os papéis. Mas não! A velha queria beber, ou voltar-se...<br />

— Como se sente? — perguntava Juliana, com uma voz plangente. Melhor,<br />

Juliana, melhor — murmurava.<br />

Supunha-se sempre melhor.<br />

— Mas a senhora tem estado desinquieta! — dizia Juliana, despeitada da<br />

melhora.<br />

— Não — suspirava — dormi bem!<br />

— Isso não tem dormido... Tenho-a ouvido gemer! Tem estado toda a noite a<br />

gemer!<br />

Queria argumentar com ela, convencê-la que estava pior! Convencer-se a si<br />

mesma que o alívio era efêmero, que ia morrer depressa! E todas as manhãs seguia<br />

o Dr. Pinto até à porta, com os braços cruzados, a face triste:<br />

— Então, senhor doutor, não há esperança?<br />

— Está por dias!<br />

Queria saber os dias: dois? cinco?<br />

— Sim, Sra. Juliana — dizia o velho, calçando as suas luvas pretas — uns<br />

dias, sete, oito.<br />

— Oito dias!<br />

E como a felicidade se aproximava, já tinha de olho três pares de botinas<br />

que vira na vidraça do Manuel Lourenço!<br />

A velha, enfim, morreu. Nem a mencionava no testamento!<br />

Veio-lhe uma febre. Jorge, agradecido pelos cuidados dela com a tia<br />

Virgínia, pagou-lhe um quarto no hospital, e prometeu tomá-la para criada de dentro.<br />

A que tinha, uma Emília muito bonita, ia casar.<br />

Quando saiu do hospital para casa de Jorge, começava a queixar-se mais<br />

do coração. Vinha desiludida de tudo; tinha às vezes vontade de morrer. Ouviam-se<br />

todo o dia pela casa os seus ais. Luísa achava-a fúnebre.<br />

Quis despedi-la ao fim de duas semanas, Jorge não consentiu; estava em<br />

dívida com ela, dizia. Mas Luísa não podia disfarçar a sua antipatia; — e Juliana<br />

começou a detestá-la; pôs-lhe logo um nome: a "Piorrinha"! Depois, dai a semanas,<br />

viu vir os estofadores; renovava-se a mobília da sala! A tia Virgínia deixara três<br />

contos de réis a Jorge — e ela, ela que durante um ano fora a enfermeira, humilde<br />

como um cão e fixa como uma sombra, aturando o mostrengo, tinha em paga ido<br />

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