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O Primo Basílio - Unama

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dos braços, começou a arrastá-lo, devagar. Julião adiante erguia o candeeiro; e por<br />

fanfarronada cantou os primeiros compassos da marcha do Foosto. Mas Sebastião<br />

escandalizou-se, e com uma voz que tremia:<br />

— Largo tudo, e vou-me...<br />

— Respeitarei os nervos da menina! — disse Julião curvando-se.<br />

Continuaram calados. Aquele corpo magro parecia a Sebastião de um peso<br />

de chumbo. Arquejava. Nas escadas uma das chinelas do cadáver soltou-se, rolou.<br />

E Sebastião sentia aterrado alguma coisa que lhe batia contra os joelhos; era a cuia<br />

caída, suspensa por um atilho.<br />

Estenderam-na na cama; Julião, dizendo que se deviam seguir as tradições<br />

— pôs-lhe os braços em cruz e fechou-lhe os olhos.<br />

Esteve um momento a olhá-la:<br />

— Feia besta! — murmurou, estendendo-lhe sobre o rosto uma toalha<br />

enxovalhada.<br />

Ao sair examinou, admirado, o quarto:<br />

— Estava mais bem alojada que eu, o estafermo!<br />

Fechou a porta, deu a volta à chave:<br />

— Requiescat in pace — disse.<br />

E desceram, calados.<br />

Ao entrar na sala, Sebastião, muito pálido, pôs a mão no ombro de Julião:<br />

— Então achas que foi o aneurisma?<br />

— Foi. Enfureceu-se, estourou. É dos livros...<br />

— Se não se tivesse zangado hoje...<br />

— Estourava amanhã. Estava nas últimas... Deixa em paz a criatura. Está<br />

começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos.<br />

Declarou então, esfregando as mãos com frio, que comia alguma coisa.<br />

Achou no armário um pedaço de vitela fria, uma garrafa meia de Colares. Instalou-se<br />

e, com a boca cheia, deitando o vinho do alto:<br />

— Então sabes a novidade, Sebastião?<br />

— Não.<br />

— O meu concorrente foi despachado!<br />

Sebastião murmurou:<br />

— Que ferro!<br />

— Era previsto — disse Julião com um grande gesto. — Eu ia fazer um<br />

escândalo, mas... — e teve um risinho — amansaram-me! Estou num posto médico,<br />

deram-me um posto médico! Atiraram-me um osso!<br />

— Sim? — fez Sebastião. — Homem, ainda bem, parabéns. E agora?<br />

— Agora, roê-lo.<br />

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