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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

o lado da Graça por trás das colinas; um vento rasteiro passava por vezes, pondo<br />

um arrepio nas folhas das árvores.<br />

— De maneira que agora estou descansado — resumiu Sebastião. — Não te<br />

parece?<br />

Julião encolheu os ombros com um sorriso triste:<br />

— Quem me dera os teus cuidados, homem! — disse.<br />

E falou então com amargura nas suas preocupações. — Havia uma semana<br />

que se abrira concurso para uma cadeira de substituto na Escola, e preparava-se<br />

para ele. Era a sua tábua de salvação, dizia; se apanhasse a cadeira, ganhava logo<br />

nome, a clientela podia vir, e a fortuna... E, que diabo, sempre era estar de dentro!...<br />

Mas a certeza da sua superioridade não o tranqüilizava — porque enfim em<br />

Portugal, não é verdade? Nestas questões a ciência, o estudo, o talento são uma<br />

história; o principal são os padrinhos! Ele não os tinha — e o seu concorrente, um<br />

sensaborão, era sobrinho de um diretor-geral, tinha parentes na Câmara; era um<br />

colosso! Por isso ele trabalhava a valer, mas parecia-lhe indispensável meter<br />

também as suas cunhas! Mas quem?<br />

— Tu não conheces ninguém, Sebastião?...<br />

Sebastião lembrava-se de um primo seu, deputado pelo Alentejo, um gordo<br />

da maioria, um pouco fanhoso. Se Julião queria, falava-lhe... Mas sempre ouvira<br />

dizer que a Escola não era gente de empenhos e de intriga... De resto tinham o<br />

Conselheiro Acácio...<br />

— Uma besta! — fez Julião. — Um parlapatão. Quem faz lá caso daquilo? O<br />

teu primo, hein! O teu primo parece-me bom! E necessário alguém que fale,<br />

trabalhe... — Porque acreditava muito nas influências dos empenhos, no domínio<br />

dos "personagens", nas docilidades da fortuna quando dirigida pelas habilidades da<br />

intriga. E com um orgulho raiado de ameaça: — Que eu hei de lhes mostrar o que é<br />

saber as coisas, Sebastião!<br />

Ia explicar-lhe o assunto da tese, mas Sebastião interrompeu-o:<br />

— Ela aí vem.<br />

— Quem?<br />

— A Luísa.<br />

Passava com efeito, por fora do Passeio, toda vestida de preto, só. —<br />

Respondeu à cortesia dos dois homens com um sorriso, adeusinhos da mão, um<br />

pouco corada.<br />

E Sebastião imóvel, seguindo-a devotamente com os olhos:<br />

— Se aquilo não respira mesmo honestidade! Vai às lojas... Santa rapariga!<br />

Ia encontrar <strong>Basílio</strong> no Paraíso pela primeira vez. E estava muito nervosa: não<br />

dominar, desde pela manhã, um medo indefinido que lhe fizera pôr um véu muito<br />

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