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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Juliana entrou, com o vestido de seda novo, movendo-se cuidadosamente:<br />

— Quer alguma coisa, minha senhora?<br />

— O Sr. Jorge volta amanhã... — disse Luísa.<br />

E suspendeu-se; o coração batia-lhe fortemente.<br />

— Ah! — fez Juliana. — Bem, minha senhora.<br />

E ia sair<br />

— Juliana! — fez Luísa, com a voz alterada.<br />

A outra voltou-se, surpreendida.<br />

E Luísa batendo com as mãos, num movimento suplicante:<br />

— Mas você ao menos nestes primeiros dias... Eu hei de arranjar, esteja<br />

cena!...<br />

Juliana acudiu logo:<br />

— Oh, minha senhora! Eu não quero dar desgostos a ninguém. O que eu<br />

quero é um bocadinho de pão para a velhice. De minha boca não há de vir mal a<br />

ninguém. O que peço à senhora é que se for da sua vontade e me quiser ir<br />

ajudando...<br />

— Lá isso, sim... O que você quiser..<br />

— Pois pode, estar certa que esta boca... — E fechou os lábios com os<br />

dedos.<br />

Que alegria para Luísa! Tinha uns dias, umas semanas, enfim, sem<br />

tormentos, com o seu Jorge! Abandonou-se então toda à deliciosa impaciência de o<br />

ver. Era singular — mas parecia-lhe que o amava mais!... — E depois pensaria,<br />

veria, daria outros presentes a Juliana, poderia pouco a pouco preparar Sebastião...<br />

Quase se sentia feliz.<br />

De tarde Juliana veio dizer-lhe, muito risonha:<br />

— A Sra. Joana saiu, que era hoje o seu dia, mas eu tinha tanta precisão de<br />

sair, também! Se a senhora lhe não custasse ficar só...<br />

— Não! Fico, que tem? Vá, vá!<br />

E, dai a pouco, sentiu-a bater os tacões no corredor, fechar com ruído a<br />

cancela.<br />

Então de repente uma idéia deslumbrou-a, como a fulguração de um<br />

relâmpago: — ir ao quarto dela, rebuscar-lhe a arca, roubar-lhe as cartas!<br />

Viu-a da janela dobrar a esquina. Subiu logo ao sótão, devagar, escutando,<br />

com o coração aos saltos. A porta do quarto de Juliana estava aberta; vinha de lá um<br />

cheiro de mofo, de rato e de roupa enxovalhada que a enjoou; pelo postigo entrava<br />

uma luz triste, de tarde escura; e por baixo, encostada à parede, ficava a arca! Mas<br />

estava fechada! Decerto! Desceu correndo, veio buscar o seu molho de chaves...<br />

Sentiu uma vergonha — mas se achasse as cartas! Aquela esperança deu-lhe todos<br />

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