16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— É alguém — disse agitada.<br />

www.nead.unama.br<br />

Vozes baixas falavam à cancela.<br />

<strong>Basílio</strong> teve um movimento de ombros contrariado; foi buscar o chapéu.<br />

— Vais-te? — exclamou ela toda desconsolada.<br />

— Pudera! Não posso estar só contigo um momento!<br />

A cancela fechou-se com ruído. Não é ninguém, foi-se — disse Luísa.<br />

Estavam de pé, no meio da sala.<br />

— Não te vás! <strong>Basílio</strong>!<br />

Os seus olhos profundos tinham uma suplicação doce. <strong>Basílio</strong> pousou o<br />

chapéu sobre o piano; mordia o bigode um pouco nervoso.<br />

— E para que queres tu estar só comigo? — disse ela. — Que tem que<br />

venha gente? — E arrependeu-se logo daquelas palavras.<br />

Mas <strong>Basílio</strong>, com um movimento brusco, passou-lhe o braço sobre os<br />

ombros, prendeu-lhe a cabeça, e beijou-a na testa, nos olhos, nos cabelos,<br />

vorazmente.<br />

Ela soltou-se a tremer, escarlate.<br />

— Perdoa-me — exclamou ele logo, com um ímpeto apaixonado. — Perdoame.<br />

Foi sem pensar. Mas é porque te adoro, Luísa!<br />

Tomou-lhe as mãos com domínio, quase com direito.<br />

— Não. Hás de ouvir. Desde o primeiro dia que te tornei a ver estou doido<br />

por ti, como dantes, a mesma coisa. Nunca deixei de me morrer por ti. Mas não tinha<br />

fortuna, tu bem o sabes, e queria-te ver rica, feliz. Não te podia levar para o Brasil.<br />

Era matar-te, meu amor! Tu imaginas lá o que aquilo é! Foi por isso que te escrevi<br />

aquela carta, mas o que eu sofri, as lágrimas que chorei!<br />

Luísa escutava-o imóvel, a cabeça baixa, o olhar esquecido; aquela voz<br />

quente e forte, de que recebia o bafo amoroso, dominava-a, vencia-a; as mãos de<br />

<strong>Basílio</strong> penetravam com o seu calor febril a substância das suas; e, tomada de uma<br />

lassidão, sentia-se como adormecer.<br />

— Fala, responde! — disse ele ansiosamente, sacudindo-lhe as mãos,<br />

procurando o seu olhar avidamente.<br />

— Que queres que te diga? — murmurou ela.<br />

A sua voz tinha um tom abstrato, mal-acordado.<br />

E desprendendo-se devagar, voltando o rosto:<br />

— Falemos noutras coisas!<br />

Ele balbuciava com os braços estendidos:<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!