O Primo Basílio - Unama
O Primo Basílio - Unama
O Primo Basílio - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
— E então essa questão da prima, vai ou não vai? Isto está horrível, menino!<br />
Eu morro! Preciso o Norte! Preciso a Escócia! Vamos embora! Acaba com essa<br />
prima. Viola-a. Se ela te resiste, mata-a!<br />
<strong>Basílio</strong>, que se estendera numa poltrona, disse, estirando muito os braços:<br />
— Oh! Está caidinha!<br />
— Pois avia-te, menino, avia-te!<br />
Apanhou moribundamente o Times, bocejou, pediu soda — soda inglesa!<br />
Não havia, veio dizer o criado. Reinaldo fitou <strong>Basílio</strong> com espanto, com<br />
terror, e murmurou soturnamente:<br />
— Que abjeção de país!<br />
Quando Luísa entrou, Juliana, ainda vestida, disse-lhe logo à porta:<br />
— O Sr. Sebastião está na sala. Tem estado um ror de tempo à espera... Já<br />
cá estava quando eu cheguei.<br />
Tinha vindo com efeito havia meia hora. Quando a Joana lhe veio abrir,<br />
muito encarnada, com ar estremunhado, e resmungou que a senhora estava para<br />
fora, Sebastião ia logo descer, com o alívio delicioso de uma dificuldade adiada. Mas<br />
reagiu, retesou a vontade, entrou, pôs-se a esperar... Na véspera tinha decidido<br />
falar-lhe, avisá-la que aquelas visitas do primo, tão repetidas, com espalhafato,<br />
numa rua maligna, podiam comprometê-la... Era o diabo, dizer-lho!... Mas era um<br />
dever! Por ela, pelo marido, pelo respeito da casa! Era forçoso acautelá-la... E não<br />
se sentia acanhado. Perante as reclamações do dever, vinham-lhe as energias da<br />
decisão. O coração batia-lhe um pouco, sim, e estava pálido... Mas, que diabo havia<br />
de lho dizer!...<br />
E passeando pela sala com as mãos nos bolsos, ia arranjando as suas<br />
frases, procurando-as muito delicadas, bem amigas...<br />
Mas a campainha retiniu, um frufru de vestido roçou o corredor — e a sua<br />
coragem engelhou-se como um balão furado. Foi-se logo sentar ao piano, pôs-se a<br />
bater vivamente no teclado. Quando Luísa entrou, sem chapéu, descalçando as<br />
luvas, ergueu-se, disse embaraçado:<br />
— Tenho estado aqui a trautear um bocado... Estava à espera... Então de<br />
onde vem?<br />
Ela sentou-se, cansada. Vinha da modista — disse. Fazia um calor! Por que<br />
não tinha entrado as outras vezes? Não estava com visitas de cerimônia! Era<br />
família, era seu primo que viera de fora.<br />
— Está bom, seu primo?<br />
— Bom. Tem estado aqui, bastante. Aborrece-se muito em Lisboa, coitado!<br />
Ora, quem vive lá fora!<br />
Sebastião repetiu, esfregando devagar os joelhos:<br />
Está claro, quem vive lá fora!<br />
97