16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A rapariga ficou escarlate.<br />

Mas Juliana acudiu logo:<br />

— Olha o mal! Fosse eu! Boa! Faz muito bem!<br />

www.nead.unama.br<br />

Juliana lisonjeava sempre a cozinheira; dependia dela; Joana dava-lhe<br />

caldinhos às horas de debilidade, ou, quando ela estava mais adoentada, fazia-lhe<br />

um bife às escondidas da senhora. Juliana tinha um grande medo de "cair em<br />

fraqueza", e a cada momento precisava tomar a "sustância". Decerto, como feia e<br />

solteirona detestava aquele "escândalo do carpinteiro"; mas protegia-o, porque ele<br />

valia muitos regalos aos seus fracos de gulosa.<br />

— Fosse eu! — repetiu, dava-lhe o melhor da panela! Se a gente ia a ter<br />

escrúpulos por causa dos amos, boa! Olha quem! Vêem uma pessoa a morrer, e é<br />

como se fosse um cão.<br />

E com um risinho amargo:<br />

— Diz que me não demorasse no médico. É como quem diz: "cura-te Ou<br />

espicha depressa!"<br />

Foi buscar a vassoura a um canto, e com um suspiro agudo:<br />

— Todas o mesmo, uma récua!<br />

Desceu, começou a varrer o corredor. — Toda a noite estivera doente: o<br />

quarto no sótão, debaixo das telhas, muito abafado, com um cheiro de tijolo cozido,<br />

dava-lhe enjôos, faltas de ar, desde o começo do verão; na véspera até vomitara! E já<br />

levantada às seis horas, não descansara, limpando, engomando, despejando, com a<br />

pontada no lado e todo o estômago embrulhado! — Tinha escancarado a cancela, e<br />

com grandes ais, atirava vassouradas furiosas contra as grades do corrimão.<br />

— A senhora D. Luísa está em casa?<br />

Voltou-se. Nos últimos degraus da escada estava um sujeito, que lhe<br />

pareceu estrangeirado. Era trigueiro, alto, tinha um bigode pequeno levantado, um<br />

ramo na sobrecasaca azul, e o verniz dos seus sapatos resplandecia.<br />

— A senhora vai sair — disse ela olhando-o muito. — Faz favor de dizer<br />

quem é?<br />

O indivíduo sorriu.<br />

— Diga-lhe que é um sujeito para um negócio. Um negócio de minas.<br />

Luísa, diante do toucador, já de chapéu, metia numa casa do corpete dois<br />

botões de rosa-chá.<br />

— Um negócio! — disse muito surpreendida. — Deve ser algum recado para<br />

o Sr. Jorge, decerto! Mande entrar. Que espécie de homem é?<br />

— Um janota!<br />

34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!