O Primo Basílio - Unama
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só, que viesse, que era estúpida semelhante separação... E era sincera naquele<br />
momento.<br />
Tinha fechado o envelope, quando Juliana lhe veio trazer "uma carta do<br />
hotel". <strong>Basílio</strong> mostrava-se desesperado:<br />
... Como não vieste, vejo que estás zangada; mas é decerto o teu orgulho,<br />
não o teu amor que te domina; não imaginas o que senti quando vi que não vinhas<br />
hoje. Esperei até às cinco horas; que suplício! Fui talvez seco, mas tu também<br />
estavas implicativa. Devemos perdoar-nos ambos, ajoelharmos um diante do outro,<br />
e esquecer todo o despeito no mesmo amor... Vem amanhã. Adoro-te tanto! Que<br />
outra prova queres, que esta que te dou de abandonar os meus interesses, as<br />
minhas relações, os meus gostos, e enterrar-me aqui em Lisboa, etc.<br />
Ficou muito nervosa, sem saber o que havia de fazer, o que havia de querer.<br />
Aquilo era verdade. Por que estava ele em Lisboa? Por ela. Mas se reconhecia<br />
agora — que o não amava, ou tão pouco! E depois era vil trair assim Jorge, tão bom,<br />
tão amoroso, vivendo todo para ela. Mas se <strong>Basílio</strong> realmente estivesse tão<br />
apaixonado!... As suas idéias redemoinhavam, como folhas de outono, violentadas<br />
por ventos contraditórios. Desejava estar tranqüila, que a não perseguissem. Para<br />
que voltara aquele homem? Jesus! Que havia de fazer? Tinha os seus<br />
pensamentos, os seus sentimentos numa dolorosa trapalhada.<br />
E na manhã seguinte estava na mesma hesitação. Iria, não iria? O calor<br />
fora, a poeirada da rua faziam-lhe apetecer mais a casa! Mas que desapontamento,<br />
o do pobre rapaz também! Atirou ao ar uma moeda de cinco tostões. Era cunho,<br />
devia ir. Vestiu-se sem vontade, secada — tendo todavia um certo desejo dos<br />
refinamentos de prazer que dão as expansões da reconciliação...<br />
Mas que surpresa! Esperava encontrá-lo humilde e de joelhos; achou-o com<br />
a testa franzida e muito áspero.<br />
— Luísa, parece incrível; por que não vieste ontem?<br />
Na véspera, <strong>Basílio</strong>, quando viu que ela faltava, teve um grande despeito e<br />
medo maior; a sua concupiscência receou perder aquele lindo corpo de rapariga, e o<br />
seu orgulho escandalizou-se de ver libertar-se aquela escravazinha dócil. Resolveu<br />
portanto, a todo o custo, chamá-la ao rego. Escreveu-lhe; e mostrando-se submisso<br />
para a atrair, decidiu ser severo para a castigar. — E acrescentou:<br />
— É uma criancice ridícula. Por que não vieste?<br />
Aquele modo enraiveceu-a:<br />
— Porque não quis.<br />
Mas emendou logo:<br />
— Não pude.<br />
— Ah! É essa a maneira por que respondes à minha carta, Luísa?<br />
— E tu, é esse o modo com que me recebes?<br />
Olharam-se um momento, detestando-se.<br />
— Bem; queres uma questão? És como as outras.<br />
— Que outras?<br />
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