16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Aqui estamos! Aqui estamos no chiqueiro!<br />

www.nead.unama.br<br />

<strong>Basílio</strong> não respondia. Desde que chegara a Santa Apolônia, recordações do<br />

Paraíso, da casa de Luísa, de todo aquele romance do verão passado, começavam a<br />

voltar, a atrai-lo, com um encanto picante. Fora encostar-se à vidraça. Uma lua fria,<br />

lívida, corria agora entre grossas nuvens cor de chumbo; às vezes uma grande malha<br />

luminosa caía sobre a água, faiscava; depois tudo escurecia; vagas mastreações<br />

desenhavam-se na obscuridade difusa; e algum fanal de navio tremeluzia friamente.<br />

"Que fará ela a esta hora!" — pensava <strong>Basílio</strong>. — naturalmente, deitava-se...<br />

Mal sabia que ele estava ali, num quarto do Hotel Central...<br />

Cearam.<br />

<strong>Basílio</strong> levou a garrafinha de conhaque para a cabeceira da cama; e com a<br />

cara coberta de pó-de-arroz, os folhos da sua camisa de dormir abertos sobre o peito,<br />

muito estendido, soprando o fumo do charuto, gozava uma lassidão confortável.<br />

— E amanhã estou-te daqui a ver — disse Reinaldo. — Vai-te logo meter<br />

com a prima!<br />

<strong>Basílio</strong> sorriu; o seu olhar errou um pouco pelo teto; certas recordações das<br />

belezas dela, do seu temperamento amoroso, trouxeram-lhe uma vaga<br />

voluptuosidade; espreguiçou-se. — Que diabo! — disse — é uma linda rapariga!<br />

Vale imenso a pena! — Bebeu mais um cálice de conhaque, e daí a pouco dormia<br />

profundamente. Era meia-noite.<br />

Àquela hora Jorge acordava, e sentado numa cadeira, imóvel, com soluços<br />

cansados que ainda o sacudiam, pensava nela. Sebastião, no seu quarto, chorava<br />

baixo. Julião, no posto médico, estendido num sofá, lia a Revista dos Dois Mundos.<br />

Leopoldina dançava numa soirée da Cunha. Os outros dormiam. E o vento frio que<br />

varria as nuvens e agitava o gás dos candeeiros ia fazer ramalhar tristemente uma<br />

árvore sobre a sepultura de Luísa.<br />

Daí a dois dias pela manhã <strong>Basílio</strong>, no Rossio, procurava, com o olhar em<br />

redor, um cupê decente. Mas o Pintéus, avistando-o de longe, lançou logo a parelha.<br />

— Cá está o Pintéus, meu amo! — Parecia encantado de tornar a ver o<br />

senhor D. Basilinho, e apenas ele lhe disse:<br />

— Lá acima, à Patriarcal, ó Pintéus!<br />

— À casa da senhora? Pronto, meu amo. — E endireitando-se na almofada,<br />

bateu.<br />

Quando a tipóia parou à porta de Jorge — o Paula saiu para a rua, a<br />

estanqueira correu de dentro do balcão, a criada do doutor debruçou-se logo na<br />

janela. E imóveis arregalavam os olhos.<br />

<strong>Basílio</strong> tocara a campainha, um pouco nervoso: esperou, arremessou o<br />

charuto, tomou a puxar o cordão com força.<br />

— As janelas estão trancadas, meu amo — disse o Pintéus.<br />

<strong>Basílio</strong> recuou ao meio da rua: as portadas verdes estavam fechadas, a casa<br />

tinha um aspecto mudo.<br />

<strong>Basílio</strong> dirigiu-se ao Paula:<br />

297

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!