O Primo Basílio - Unama
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noitada de teatro!... — E erguendo-se passeava diante do toucador com olhares de<br />
lado, alisando os bandós, ajeitando as pulseiras, entalada nos espartilhos, a pupila<br />
luzidia.<br />
Uma carruagem parou à porta.<br />
— O trem! — disse, toda risonha.<br />
Luísa calçando as luvas, já com a capa, olhava em redor: o coração batialhe<br />
alto; nos seus olhos havia uma febre. Não lhe faltava nada? — perguntou D.<br />
Felicidade. A chave da frisa? O lenço?<br />
— Ai! O meu ramo! — exclamou Luísa.<br />
Juliana ficou espantada quando a viu vestida para teatro. Foi alumiar,<br />
calada; e atirando a cancela com uma pancada insolente:<br />
leque!<br />
— Não tem mesmo vergonha naquela cara! — rosnou.<br />
O trem já rodava quando D. Felicidade rompeu a gritar, batendo nos vidros:<br />
— Ai? — Espere, pare! Que ferro, esqueceu-me o leque! Não posso ir sem<br />
— Pare, cocheiro!<br />
— Faz-se tarde, filha, dou-te o meu. Toma! — fez Luísa impaciente.<br />
Aquelas agitações abalavam a digestão comprimida de D. Felicidade;<br />
felizmente, como ela dizia, arrotava! Graças a Deus, louvada seja Nossa Senhora,<br />
que podia arrotar!<br />
Mas a descida do Chiado alegrou-a muito. Grupos escuros, onde se<br />
gesticulava, destacavam às portas vivamente alumiadas da Casa Havanesa; os<br />
trens passavam para o lado do Picadeiro, com um rápido reluzir de lanternas ricas,<br />
que alumiavam as bandas brancas dos capotes dos criados. D. Felicidade, com a<br />
sua face jubilosa à portinhola, gozava a claridade do gás nas vitrinas, o ar de<br />
inverno; e foi com uma satisfação que viu o guarda-portão do Gibraltar, de calções<br />
vermelhos, vir com o boné na mão, à portinhola.<br />
Perguntaram por Jorge.<br />
E caladas, olhavam a escada de lance decorativo onde globos foscos<br />
derramavam uma luz doce. D. Felicidade, muito curiosa da "vida de hotel", reparou<br />
na engomadeira que entrou com um cesto de roupa; depois numa senhora que lhe<br />
pareceu estabanada, e que descia, vestida de soirée, mostrando o pé calçado num<br />
sapato redondo de cetim branco; e sorria de ver sujeitos roçarem-se pelo trem,<br />
lançando para dentro olhares gulosos.<br />
— Estão a arder por saber quem somos.<br />
Luísa calada apertava nas mãos o seu ramo. Enfim Jorge apareceu no alto<br />
da escada, conversando muito interessadamente com um sujeito magríssimo, de<br />
chapéu ao lado, as mãos nos bolsos de umas calças muito estreitas, e um enorme<br />
charuto enristado ao canto da boca. Paravam, gesticulavam, cochichavam. Por fim o<br />
sujeito apertou a mão de Jorge, falou-lhe ao ouvido, riu baixo, torcendo-se, bateu-lhe<br />
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