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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Olharam-se, então, com rancor.<br />

Mas daí a momentos o estudante deixou cair com desdém algumas palavras<br />

sobre Claude Bernard, e a questão recomeçou, furiosa.<br />

Sebastião tomou o chapéu.<br />

— Adeus — disse baixo.<br />

— Adeus, Sebastião, adeus — disse prontamente Julião.<br />

Acompanhou-o ao patamar.<br />

— E quando quiseres que eu fale a meu primo... — murmurou Sebastião.<br />

— Pois sim, veremos, eu pensarei — disse Julião com indiferença, como se<br />

o orgulho do trabalho lhe tivesse dissipado o terror da injustiça.<br />

Sebastião foi descendo as escadas, pensando: "Não se lhe pode falar em<br />

nada, agora!"<br />

De repente veio-lhe uma idéia: se fosse ter com D. Felicidade, abrir-se com<br />

ela! D. Felicidade era espalhafatona, um pouco tonta, mas era uma mulher de idade,<br />

íntima de Luísa; tinha mais autoridade, mais habilidade mesmo...<br />

Decidiu-se logo; tomou um trem, foi à Rua de São Bento.<br />

A criada de D. Felicidade apareceu-lhe, desolada e lacrimosa:<br />

— Pois não sabe?<br />

— Ai! Até admira!<br />

— Mas o quê?<br />

— A senhora! Uma desgraça assim! Torceu um pé na Encarnação, deu uma<br />

n estado muito mal, muito mal.<br />

— Aqui?<br />

— Na Encarnação. Nem pode sair. Está com a senhora D. Ana Silveira. Uma<br />

desgraça assim! E está num frenesi!<br />

— Mas quando foi?<br />

— Anteontem à noite.<br />

Sebastião saltou para o trem, mandou bater para casa de Luísa. D.<br />

Felicidade, doente, na Encarnação! Mas então Luísa podia bem sair todos os dias!<br />

Ia vê-la, fazer-lhe companhia, tratar dela!...<br />

A vizinhança não tinha que rosnar! Ia ver a pobre doente!...<br />

Eram duas horas quando a parelha estacou à porta de Luísa. Encontrou-a,<br />

que descia a escada, vestida de preto, de luva gris-perle, com um véu negro.<br />

— Ah! Suba, Sebastião, suba! Quer subir?<br />

Parara nos degraus, com uma corzinha no rosto, um pouco embaraçada.<br />

— Não, obrigado. Vinha dizer-lhe... Não sabe? A D. Felicidade...<br />

— O quê?<br />

— Torceu um pé. Está mal.<br />

— Que me diz?<br />

Sebastião deu os pormenores.<br />

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