O Primo Basílio - Unama
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impossível! Fugir é bom nos romances! E depois, minha filha, não é um caso para<br />
isso! É uma simples questão de dinheiro...<br />
Luísa fazia-se branca, ouvindo-o.<br />
— E além disso — continuou <strong>Basílio</strong>, muito agitado, pelo quarto — eu não<br />
estou preparado, nem tu! Não se foge assim. Ficas desacreditada para toda a vida,<br />
sem remédio, Luísa. Uma mulher que foge, deixa de ser a senhora D. Fulana; é a<br />
fulana, a que fugiu, a desavergonhada, uma concubina! Eu tenho decerto de ir ao<br />
Brasil; onde hás de tu ficar? Queres ir também, um mês num beliche, arriscar-te à<br />
febre amarela? E se teu marido nos persegue, se formos detidos na fronteira? Achas<br />
bonito voltar entre dois polícias, e ir passar um ano ao Limoeiro? O teu caso é<br />
simplicíssimo. Entendes-te com essa criatura; dá-se-lhe um par de libras, que é o<br />
que ela quer, e ficas em tua casa, sossegada, respeitada como dantes — somente<br />
mais acautelada! Aqui está!<br />
Aquelas palavras caíam sobre os planos de Luísa, como machadadas que<br />
derrubam árvores. Às vezes a verdade que elas continham atravessava-a<br />
irresistivelmente, viva como um relâmpago, desagradável como um gume frio. Mas<br />
via naquela recusa uma ingratidão, um abandono. Depois de se ter instalado, pela<br />
imaginação, numa segurança feliz, longe, em Paris — parecia-lhe intolerável ter de<br />
voltar para casa, de cabeça baixa, sofrer Juliana, esperar a morte; e os<br />
contentamentos que entrevira naquele outro destino, agora que lhe fugiam de entre<br />
as mãos, pareciam-lhe maravilhosos, quase indispensáveis! E depois de que servia<br />
resgatar a carta a dinheiro? A criatura saberia o seu segredo! E a vida seria amarga,<br />
tendo sempre em volta de si aquele perigo a rondar!<br />
Ficara calada, como perdida numa reflexão vaga; e de repente erguendo a<br />
cabeça, com um olhar brilhante:<br />
— Então, dize!...<br />
— Mas estou-te a dizer, filha...<br />
— Não queres?<br />
— Não! — exclamou <strong>Basílio</strong> com força. — Se tu estás doida, não estou eu!<br />
— Oh! Pobre de mim, pobre de mim!<br />
Deixou-se cair no sofá, tapou o rosto com as mãos. Soluços baixos<br />
sacudiam-lhe o peito.<br />
<strong>Basílio</strong> sentou-se ao pé dela. Aquelas lágrimas mortificavam-no,<br />
impacientavam-no.<br />
— Mas, santo nome de Deus, escuta-me!<br />
Ela voltou para ele os olhos que reluziam sob o pranto:<br />
— Para que dizias então, tantas vezes, que seríamos tão felizes; que se eu<br />
quisesse...<br />
<strong>Basílio</strong> ergueu-se bruscamente:<br />
— Pois tu pensaste em fugir, em te meter comigo num vagão, vir para Paris,<br />
viver comigo, ser a minha amante?<br />
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