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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Nunca achara <strong>Basílio</strong> tão bonito; o quarto mesmo parecia-lhe muito<br />

conchegado para aquelas intimidades da paixão; quase julgava possível viver ali,<br />

naquele cacifo, anos, feliz com ele, num amor permanente, e lanches às três horas...<br />

Tinham as pieguices clássicas; metiam-se bocadinhos na boca; ela ria com os seus<br />

dentinhos brancos; bebiam pelo mesmo copo, devoravam-se de beijos — e ele quislhe<br />

ensinar então a verdadeira maneira de beber champanhe. Talvez ela não<br />

soubesse!<br />

— Como é? — perguntou Luísa erguendo o copo.<br />

— Não é com o copo! Horror! Ninguém que se preza bebe champanhe por<br />

um copo. O copo é bom para o Colares...<br />

Tomou um gole de champanhe e num beijo passou-o para a boca dela.<br />

Luísa riu muito, achou "divino"; quis beber mais assim. Ia-se fazendo vermelha, o<br />

olhar luzia-lhe.<br />

Tinham tirado os pratos da cama; e sentada à beira do leito, os seus<br />

pezinhos calçados numa meia cor-de-rosa pendiam, agitavam-se, enquanto um<br />

pouco dobrada sobre si, os cotovelos sobre o regaço, a cabecinha de lado, tinha em<br />

toda a sua pessoa a graça lânguida de uma pomba fatigada.<br />

<strong>Basílio</strong> achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto<br />

chique, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijoulhos;<br />

depois, dizendo muito mal das ligas "tão feias, com fechos de metal", beijou-lhe<br />

respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu,<br />

dizia: "não! não!" E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda<br />

escarlate; murmurou repressivamente:<br />

— Oh, <strong>Basílio</strong>!<br />

Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinhaa<br />

na mão!<br />

Só às seis horas se desprendeu dos seus braços. Luísa fez-lhe jurar que<br />

havia de pensar nela toda a noite: — Não queria que ele saísse; tinha ciúme do<br />

Grêmio, do ar, de tudo! E já no patamar voltava, beijava-o, louca, repetia:<br />

Só a ti!<br />

— E amanhã mais cedo, sim? Para estarmos todo o dia.<br />

— Não vais ver a D. Felicidade?<br />

— Que me importa a D. Felicidade! Não me importa ninguém! Quero-te a ti!<br />

— Ao meio-dia?<br />

— Ao meio-dia!<br />

Quanto lhe pesou à noite a solidão do seu quarto! Tinha uma impaciência<br />

que a impelia a prolongar a excitação da tarde, agitar-se. Ainda quis ler, mas bem<br />

depressa arremessou o livro; as duas velas acesas sobre o toucador pareciam-lhe<br />

lúgubres; foi ver a noite; estava tépida e serena. Chamou Juliana:<br />

— Vá pôr um xale, vamos à casa da senhora D. Leopoldina.<br />

Quando chegaram foi a Justina que veio abrir, depois de uma grande<br />

demora, esguedelhada, em chambre branco. Pareceu muito espantada:<br />

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