16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Tu estás doido? — exclamou ela.<br />

— Mas...<br />

— Tu queres-me dar dinheiro? — A sua voz tremia.<br />

— Mas enfim...<br />

— Adeus! — E ia sair da sala, indignada.<br />

— Luísa, pelo amor de Deus! Tu não me compreendeste...<br />

Ela parou; disse precipitadamente, como impaciente por acabar:<br />

www.nead.unama.br<br />

— Compreendi, <strong>Basílio</strong>, obrigada. Mas não, não é necessário. Estou<br />

nervosa, é o que é... Não prolonguemos mais isto... Adeus...<br />

— Mas sabes que volto, dentro de três semanas...<br />

— Bem, então nos veremos...<br />

Ele atraiu-a, deu-lhe um beijo na boca, encontrou os seus lábios passivos e<br />

inertes.<br />

Aquela frieza irritou-lhe a vaidade. Apertou-a contra o peito; disse-lhe baixo,<br />

pondo muita paixão na voz:<br />

— Nem um beijo me queres dar?<br />

Nos olhos de Luísa passou um ligeiro clarão; beijou-o rapidamente, e recuando:<br />

— Adeus.<br />

<strong>Basílio</strong> esteve um momento a olhá-la; teve como um leve suspiro:<br />

— Adeus! — E da porta, voltando-se, com melancolia: — Escreve-me ao<br />

menos. Sabes a minha morada. Rua Saint Florentin, 22.<br />

Luísa chegou-se à janela. Viu-o acender o charuto na rua, falar ao cocheiro,<br />

saltar para o cupê, fechar com força a portinhola, sem um olhar para as janelas!<br />

O trem rolou. Era o n o 10 ... Nunca mais o veria! Tinham palpitado no mesmo<br />

amor, tinham cometido a mesma culpa. — Ele partia alegre, levando as recordações<br />

romanescas da aventura; ela ficava, nas amarguras permanentes do erro. E assim<br />

era o mundo!<br />

Veio-lhe um sentimento pungente de solidão e de abandono. Estava só, e a<br />

vida aparecia-lhe como uma vasta planície desconhecida, coberta da densa noite,<br />

eriçada de perigos!<br />

Entrou no quarto devagar, foi-se deixar cair no sofá; viu ao pé o saco de<br />

marroquim, que preparara na véspera para fugir; abriu-o, pôs-se a tirar lentamente<br />

os lenços, uma camisinha bordada — encontrou a fotografia de Jorge! Ficou com ela<br />

na mão, contemplando o seu olhar leal, o seu sorriso bom. — Não, não estava no<br />

mundo só! Tinha-o a ele! Amava-a aquele; nunca a trairia, nunca a abandonaria! —<br />

E colando os beiços ao retrato, umedecendo-o de beijos convulsivos, atirou-se de<br />

bruços, lavada em lágrimas dizendo: — Perdoa-me, Jorge, meu Jorge, eu querido<br />

Jorge, Jorge da minha alma!<br />

Depois de jantar, Joana veio dizer-lhe timidamente:<br />

— A senhora não lhe parece que seria bom ir saber da Sra. Juliana?<br />

176

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!