O Primo Basílio - Unama
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Sebastião abaixou-se, sacudiu-a; estava hirta, uma escuma roxa aparecialhe<br />
aos cantos da boca.<br />
Agarrou no chapéu, desceu as escadas, correu até a Patriarcal. Um cupê<br />
passava; atirou-se para dentro, mandou a "todo o que der", para a casa de Julião; e<br />
obrigou-o a vir imediatamente, mesmo em chinelas, sem colarinho.<br />
— É caso de morte, é a Juliana — balbuciava muito pálido.<br />
E pelo caminho, entre o ruído das rodas e o tilintar dos caixilhos, contava<br />
ente que entrara em casa de Luísa, que achara Juliana muito despeitada por ter sido<br />
despedida, e que a falar, a esbracejar, de repente, tombara para o lado!<br />
— Foi o coração. Estava para dias — disse Julião, chupando a ponta do cigarro.<br />
Pararam. Mas Sebastião desorientado, ao sair, fechara a porta! E dentro só<br />
a morta! O cocheiro ofereceu a sua gazua, que serviu.<br />
— Então nem se vai a uma passeatinha ao Dafundo, meus fidalgos? —<br />
disse o homem, metendo a gorjeta na algibeira.<br />
Mas vendo-os atirar com a porta:<br />
— Também não é gente disso — rosnou com desprezo, batendo a parelha.<br />
Entraram.<br />
No pequeno pátio o silêncio da casa pareceu a Sebastião pavoroso. Subia,<br />
aterrado, os degraus, que se lhe afiguravam infindáveis; e, com fortes pancadas do<br />
coração, esperava ainda que ela estivesse apenas adormecida num desmaio<br />
simples, ou já de pé, pálida e respirando!<br />
Não. Lã estava como a deixara, estendida na esteira, com os braços<br />
abertos, os dedos retorcidos como garras. A convulsão das pernas arregaçara-lhe<br />
as saias, viam-se as suas canelas magras com meias de riscadinho cor-de-rosa e as<br />
chinelas de tapete; o candeeiro de petróleo, que Sebastião esquecera ao pé sobre<br />
uma cadeira, punha tons lívidos na testa, nas faces rígidas; a boca torcida fazia uma<br />
sombra; e os olhos medonhamente abertos, imobilizados na agonia repentina,<br />
tinham uma vaga névoa, como cobertos de uma teia de aranha diáfana. Em redor<br />
tudo parecia mais imóvel, de um hirto morto. Vagos reflexos de prata reluziam no<br />
aparador; e o tique-taque do cuco palpitava sem descontinuar.<br />
Julião apalpou-a, ergueu-se sacudindo as mãos, disse:<br />
— Está morta com todas as regras. E necessário tirá-la daqui. Onde é o<br />
quarto?<br />
Sebastião, pálido, fez sinal com o dedo que era por cima.<br />
— Bem. Arrasta-a tu, que eu levo o candeeiro. — E como Sebastião não se<br />
movia: — Tens medo? — perguntou rindo.<br />
Escarneceu-o: que diabo, era matéria inerte, era como quem agarrava uma<br />
boneca! Sebastião, com um suor à raiz dos cabelos, levantou o cadáver por debaixo<br />
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