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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Tu sabes — continuou D. Felicidade, devagar, com pausas — que a minha<br />

criada, a Josefa, está para casar com o galego... O homem é de ao pé de Tui, e diz<br />

que na terra dele há uma mulher que tem virtude para fazer casamentos que é uma<br />

coisa milagrosa... Diz que é o mais que há... Em deitando a sorte a um o homem<br />

entra-lhe uma tal paixão que se arranja logo o casamento e é a maior felicidade.<br />

Luísa tranqüilizada, sorriu.<br />

— Escuta — acudiu D. Felicidade —, não te ponhas já com as tuas coisas...<br />

No seu tom grave havia um respeito supersticioso.<br />

— Diz que tem feito milagres. Homens que tinham desamparado raparigas,<br />

outros que não faziam caso delas, maridos que tinham amigas; enfim toda a sorte de<br />

ingratidão... Em a mulher deitando o encanto, os homens começam a esmorecer, a<br />

arrepender-se, a apaixonar-se, e estão pelo beiço... A rapariga contou-me isso. Eu<br />

lembrei-me logo...<br />

— De deitar uma sorte ao Conselheiro! — exclamou Luísa.<br />

— Que te parece?<br />

Luísa deu uma risada sonora. Mas D. Felicidade quase se escandalizou.<br />

Contou outros casos: um fidalgo que desonrara uma lavadeira; um homem que<br />

abandonou a mulher e os filhos, fugira com uma bêbeda... Em todos a sorte operara<br />

de um modo fulminante, produzindo um amor súbito e fogoso pela pessoa<br />

desprezada. Apareciam logo rendidos, se estavam perto; se estavam longe,<br />

voltavam, ávidos, a pé, a cavalo, na mala-posta, apressando-se, ardendo... E<br />

entregavam-se, mansos e humildes como escravos acorrentados...<br />

— Mas o galego — continuava ela muito excitada — diz que para ir à terra,<br />

falar à mulher, levar o retrato do Conselheiro, é necessário o retrato dele, o meu, é<br />

necessário o meu; ir falar, voltar — quer sete moedas!...<br />

— Oh! D. Felicidade! — fez Luísa repressivamente.<br />

— Não me digas, não venhas com as tuas! Olha que eu sei de casos...<br />

E erguendo-se:<br />

— Mas são sete moedas! Sete moedas! — exclamou, arregalando os olhos.<br />

Juliana apareceu à porta, e muito baixinho, com um sorriso:<br />

— A senhora faz favor?<br />

Chamou-a para o corredor, em segredo:<br />

— Esta carta. Que vem do hotel.<br />

Luísa fez-se escarlate.<br />

— Credo, mulher! Não é necessário fazer mistérios!<br />

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