O Primo Basílio - Unama
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Luísa, no entanto, passava pior: tinha de repente, sem razão, febres<br />
efêmeras; emagrecia, e as suas melancolias torturavam Jorge.<br />
Ela explicava tudo pelo nervoso.<br />
— Que será, Sebastião? — era a pergunta incessante de Jorge. E lembravase<br />
com terror que a mãe de Luísa morrera de uma doença de coração!<br />
Na rua, pela cozinheira, pela tia Joana, sabia-se que a do Engenheiro ia mal.<br />
A tia Joana jurava que era a solitária. Porque enfim, uma pessoa a quem não faltava<br />
nada, com um marido que era um anjo, uma boa casa, todos os seus cômodos — e<br />
a esmorecer, a esmorecer... Era a bicha! Não podia ser senão a bicha! E todos os<br />
dias lembrava a Sebastião que se devia mandar chamar o homem de Vila Nova de<br />
Famalicão, que tinha o remédio para a bicha.<br />
O Paula explicava de outro modo:<br />
— Ali anda coisa de cabeça — dizia, franzindo a testa, com o ar profundo.<br />
— Sabe o que ela tem, Sra. Helena? É muita dose de novelas naquela<br />
cachimônia. Eu vejo-a de pela manhã até à noite de livro na mão. Põe-se a ler<br />
romances e mais romances... Aí têm o resultado: arrasada!<br />
Um dia Luísa de repente, sem razão, desmaiou; e quando voltou a si ficou<br />
muito fraca, com o pulso sumido, os olhos cavados. Jorge foi logo buscar Julião;<br />
encontrou-o muito agitado, porque o concurso era para o dia seguinte, e sentia<br />
cólicas.<br />
Durante todo o caminho não deixou de falar excitadamente da sua tese, do<br />
escândalo dos patrocinados, do barulho que faria se fossem injustos — arrependido<br />
agora de não ter metido mais cunhas!<br />
Depois de ter examinado Luísa veio dizer, furioso, a Jorge:<br />
— Não tem nada! E vais-me buscar para isto! Tem anemia, o que todos<br />
temos. Que passeie, que se distraia. Distrações e ferro, muito ferro... E água fria, fria<br />
pra cima daquela espinha!<br />
Como eram cinco horas convidou-se para jantar, deblaterando toda a tarde<br />
contra o país, amaldiçoando a carreira médica, injuriando o seu concorrente e<br />
fumando com desespero os charutos de Jorge.<br />
Luísa tomava o ferro, mas recusava as distrações; fatigava-a vestir-se,<br />
aborrecia-lhe ir ao teatro... Depois, logo que viu Jorge preocupar-se do seu estado,<br />
quis afetar força, alegria, bom humor; e aquele esforço abatia-a, extraordinariamente.<br />
— Vamos para o campo, queres tu? — dizia-lhe Jorge desolado vendo-a<br />
esmorecida.<br />
Ela, receando complicações possíveis, não aceitava; não se sentia bastante<br />
forte, dizia: onde estava mais confortável que em casa? Depois as despesas, os<br />
incômodos.<br />
Uma manhã, que Jorge voltara a casa inesperadamente, encontrou-a em de<br />
chambre, com um lenço amarrado na cabeça, varrendo lugubremente. Ficou à porta,<br />
atônito:<br />
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