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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Calaram-se. Luísa pediu o café.<br />

Juliana entrou com a bandeja, trouxe luz; daí a pouco foram para a sala.<br />

— Sabes quem me falou ontem de ti? — disse Leopoldina, indo estender-se<br />

no divã,<br />

— Quem?<br />

— O Castro.<br />

— Que Castro?<br />

— O de óculos, o banqueiro.<br />

— Ah!<br />

— Muito apaixonado por ti sempre.<br />

Luísa riu.<br />

— Doido, palavra! — afirmou Leopoldina.<br />

A sala estava às escuras, com as janelas abertas; a rua esbatia-se num<br />

crepúsculo pardo, um ar lânguido e doce amaciava a noite.<br />

Leopoldina esteve um momento calada; mas o champanhe, a meia<br />

obscuridade deram-lhe bem depressa a necessidade de cochichar<br />

confidenciazinhas. Estirou-se mais no divã, numa atitude toda abandonada; pôs-se a<br />

falar dele. Era ainda o Fernando, o poeta. Adorava-o.<br />

rapaz!<br />

— Se tu soubesses! — murmurava com um ar de êxtase. — É um amor de<br />

A sua voz velada tinha inflexões de uma ternura cálida. Luísa sentia-lhe o<br />

hálito e o calor do corpo, quase deitada também, enervada; a sua respiração alta<br />

tinha por vezes um tom suspirado; e a certos detalhes mais picantes de Leopoldina<br />

soltava um risinho quente e curto, como de cócegas... Mas passos fortes de botas<br />

de tachas subiram a rua, e no candeeiro defronte o gás saltou com um jato vivo.<br />

Uma branda claridade pálida penetrou na sala.<br />

Leopoldina ergueu-se logo. — Tinha de ir já, já, ao acender do gás. Estava à<br />

espera, o pobre rapaz! Entrou no quarto, mesmo às escuras, a pôr o chapéu, buscar<br />

a sombrinha. — Tinha-lhe prometido, coitado, não podia faltar. Mas realmente<br />

embirrava de ir só. Era tão longe! Se a Juliana pudesse vir acompanhá-la...<br />

— Vai, sim, filha! — disse Luísa.<br />

Ergueu-se preguiçosamente com um grande ai!, foi abrir a porta, e deu de<br />

cara com Juliana, na sombra do corredor.<br />

— Credo, mulher, que susto!<br />

— Vinha saber se queriam luz...<br />

— Não. Vá por um xale para acompanhar a senhora D. Leopoldina!<br />

Depressa!<br />

Juliana foi correndo.<br />

— E quando apareces tu, Leopoldina? — perguntou Luísa.<br />

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