O Primo Basílio - Unama
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— E é o que eu admiro, Conselheiro — observou Julião —, é que tendo uma<br />
casa tão confortável, não se tenha casado, não se tenha dado o conchego de uma<br />
senhora...<br />
Todos apoiaram. Era verdade! O Conselheiro devia-se ter casado.<br />
— São graves, perante Deus e perante a sociedade, as responsabilidades<br />
de um chefe de família — considerou ele.<br />
Mas enfim — disseram, é o estado mais natural. E depois, que diabo, às<br />
vezes havia de se sentir só! E numa doença! Sem contar a alegria que dão os filhos!...<br />
O Conselheiro objetou: "os anos, as neves da fronte..."<br />
Também ninguém lhe dizia que fosse casar com uma rapariga de quinze<br />
anos! Não, era arriscado. Mas com uma pessoa de certa idade que tivesse atrativos,<br />
cuidados de interior... Era mesmo moral.<br />
— Porque enfim, Conselheiro, a natureza é a natureza... — disse Julião com<br />
malícia.<br />
— Há muito, meu amigo, que se apagou dentro em mim o fogo das paixões.<br />
Ora qual! Era um fogo que nunca se extinguia! Que diabo! Era impossível<br />
que o Conselheiro, apesar dos seus cinqüenta e cinco, fosse indiferente a uns belos<br />
olhos pretos, a umas formazinhas redondas!...<br />
O Conselheiro corava. E o Saavedra declarou, com um circunlóquio pudico<br />
— que nenhuma idade se eximia à influência de Vênus. Toda a questão é nos<br />
gostos — disse, aos quinze anos gosta-se de uma matrona cheia, aos cinqüenta de<br />
um frutozinho tenro... Pois não é verdade, amigo Alves?<br />
O Alves arregalou os olhos concupiscentes, e fez estalar a língua.<br />
E o Saavedra continuou:<br />
— Eu, a minha primeira paixão foi uma vizinha; mulher de um capitão de<br />
navios, mãe de seis filhos, e que não cabia por aquela porta. Pois senhores, fiz-lhe<br />
versos, e a excelente criatura ensinou-me um par de coisas agradáveis... Deve-se<br />
começar cedo, não é verdade? — E voltou-se para Sebastião.<br />
vida...<br />
Quiseram então saber as opiniões de Sebastião — que se fez escarlate.<br />
Por fim, muito solicitado, disse com timidez:<br />
— Eu acho que se deve casar com uma rapariga de bem, e estimá-la toda a<br />
Aquelas palavras simples produziram um curto silêncio. Mas o Saavedra,<br />
reclinando-se, classificou uma tal opinião de burguesa; o casamento era um fardo;<br />
não havia nada como a variedade...<br />
E Julião expôs dogmaticamente:<br />
— O casamento é uma fórmula administrativa, que há de um dia acabar...<br />
— De resto, segundo ele, a fêmea era um ente subalterno; o homem deveria<br />
aproximar-se dela em certas épocas do ano (como fazem os animais, que<br />
compreendem estas coisas melhor que nós), fecundá-la, e afastar-se com tédio.<br />
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