16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

braço, quis-se meter numa carruagem; e até ao Loreto foi explicando o seu medo<br />

aos borrachos, com a voz atarantada, contando casos, facadas, sem largar o braço<br />

de <strong>Basílio</strong>. Da fileira de tipóias, ao lado das grades da Praça de Camões, um<br />

cocheiro lançou logo a sua caleche descoberta, de pé na almofada apanhando<br />

confusamente as rédeas, com grandes chicotadas na parelha, excitado, gritando:<br />

— Pronto, meu amo, pronto!<br />

Demoraram-se um momento ainda conversando. Um homem então passou,<br />

rondou — e Luísa desesperada reconheceu os olhos acarneirados do sujeito da pêra.<br />

Entraram para a caleche. Luísa ainda se voltou para ver <strong>Basílio</strong> imóvel no<br />

largo, com o seu chapéu na mão; depois acomodou-se, pôs os pezinhos no outro<br />

assento e balançada pelo trote largo viu passar, calada, as casas apagadas da Rua<br />

de São Roque, as árvores de São Pedro de Alcântara, as fachadas estreitas do<br />

Moinho de Vento, os jardins adormecidos da Patriarcal. A noite estava imóvel, de um<br />

calor mole, e desejava, sem saber por que, rolar assim sempre, infinitamente, entre<br />

ruas, entre grades cheias de folhagem de quintas nobres, sem destino, sem cuidados,<br />

para alguma coisa de feliz que não distinguia bem! Um grupo defronte da Escola ia<br />

tocando o Fado do Vimioso; aqueles sons entraram-lhe na alma como um vento doce,<br />

que fazia agitar brandamente muitas sensibilidades passadas, suspirou baixo.<br />

— Um suspirozinho que vai para o Alentejo — disse D. Felicidade, tocandolhe<br />

no braço.<br />

Luísa sentiu todo o sangue abrasar-lhe o rosto. Davam onze horas quando<br />

entrou em casa.<br />

Juliana veio alumiar. — O chá estava pronto, quando a senhora quisesse...<br />

Luísa subiu daí a pouco com um largo roupão branco, muito fatigada; na<br />

voltaire; sentia vir-lhe uma sonolência; a cabeça pendia-lhe; cerravas as pálpebras...<br />

E Juliana tardava tanto com o chá! Chamou-a. Onde estava? Credo!<br />

Tinha descido, pé ante pé, ao quarto de Luísa. E aí tomando o vestido, as<br />

saias engomadas que ela despira e atirara para cima da causeuse, desdobrou-as,<br />

examinou-as, e com uma certa idéia, cheirou-as! Havia o vago aroma de um corpo<br />

lavado e quente, com uma pontinha de suor e de água-de-colônia. Quando a sentiu<br />

chamar, impacientar-se em cima, subiu, correndo. — Fora abaixo dar uma<br />

arrumadela. Era o chá? Estava pronto...<br />

E entrando com as torradas:<br />

— Veio aí o Sr. Sebastião, haviam de ser nove horas...<br />

— Que lhe disse?<br />

— Que a senhora tinha saído com a senhora D. Felicidade. Como não sabia,<br />

não disse para onde.<br />

E acrescentou:<br />

— Esteve a conversar comigo, o Sr. Sebastião... Esteve a conversar mais de<br />

meia hora!...<br />

Luísa recebeu, na manhã seguinte, da parte de Sebastião, um ramo de<br />

rosas, magenta-escuro, magníficas. Cultivava-as ele na quinta de Almada, e<br />

60

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!