O Primo Basílio - Unama
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— "Temos novidade! Temo-la grossa!" — pensou Juliana pelo corredor.<br />
A campainha repicava. E no patamar, vestido de claro, com uma rosa ao<br />
peito, um embrulho debaixo do braço, estava o "sujeito do negócio das minas!"<br />
— Aquele sujeito de ontem! — veio dizer, toda pasmada.<br />
— Mande entrar...<br />
— "Viva!" — pensou.<br />
Galgou a escada da cozinha, disse logo da porta, com a voz aguda de júbilo:<br />
— Está cá o peralta de ontem! Está cá outra vez! Traz um embrulho! Que lhe<br />
parece, Sra. Joana? Que lhe parece?<br />
— Visitas... — disse a cozinheira.<br />
Juliana teve um risinho seco. Sentou-se, acabou o seu caldo, à pressa.<br />
Joana indiferente cantarolava pela cozinha, o arrulhar das rolas continuava<br />
langoroso e débil.<br />
— Pois, senhores, isto vai rico! — disse Juliana.<br />
Esteve um momento a limpar os dentes com a língua, o olhar fixo, refletindo.<br />
Sacudiu o avental, e desceu ao quarto de Luísa; o seu olhar esquadrinhador avistou<br />
logo sobre o toucador as chaves esquecidas da despensa; podia subir, beber um<br />
trago de bom vinho, engolir dois ladrilhos de marmelada... Mas possuía-a uma<br />
curiosidade urgente, e, em bicos de pés, foi agachar-se à porta que dava para a sala,<br />
espreitou. O reposteiro estava corrido por dentro; podia apenas sentir a voz grossa e<br />
jovial do sujeito. Foi de volta, pelo corredor, à outra porta, ao pé da escada; pôs o olho<br />
à fechadura, colou o ouvido à frincha. O reposteiro dentro estava também cerrado.<br />
— "Os diabos calafetaram-se!" — pensou.<br />
Pareceu-lhe que se arrastava uma cadeira, depois que se fechava uma<br />
vidraça. Os olhos faiscavam-lhe. Uma risada de Luísa sobressaiu; em seguida um<br />
silêncio; e as vozes recomeçaram num tom sereno e contínuo. De repente o sujeito<br />
ergueu a fala, e entre as palavras que dizia, de pé decerto, passeando, Juliana ouviu<br />
claramente: "Tu, foste tu!"<br />
— Oh, que bêbeda!<br />
Um tilintlim tímido da campainha, ao lado, assustou-a. Foi abrir. Era<br />
Sebastião muito vermelho do sol, com as botas cheias de pó.<br />
— Está? — perguntou, limpando a testa suada.<br />
— Está com uma visita, Sr. Sebastião!<br />
E cerrando a porta sobre si, mas baixo:<br />
— Um rapaz novo que já cá esteve ontem, um janota! Quer que vá dizer?<br />
— Não, não, obrigado, adeus.<br />
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