16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Obrigado, Vicente. É um grande favor... Obrigado. E agasalha-te, homem.<br />

E não te esqueças: água sulfúrica da Farmácia Azevedo na Rua de São Roque;<br />

meia chávena de leite fervido... E obrigado. Não queres nada, hein? ar<br />

— Não. Dá uma placa ao Mendes. É sério, foi da Guarda!<br />

— E acavalando as lunetas retomou o Homem dos três calções.<br />

Sebastião daí a meia hora, seguido do robusto Mendes, que marchava<br />

militarmente, com os braços um pouco arqueados, encaminhava-se para casa de<br />

Jorge. Não tinha ainda um plano definido. Calculava naturalmente que Juliana vendo<br />

àquela hora da noite, o polícia com o seu terçado, se aterraria, imaginaria Boa Hora,<br />

o Limoeiro, a costa da África, entregaria as cartas, pediria misericórdia! E depois?<br />

Pensava vagamente em lhe pagar a passagem para o Brasil, ou dar-lhe quinhentos<br />

mil réis para ela se estabelecer longe, na província... O essencial era aterrá-la!<br />

Juliana com efeito, depois de abrir a porta, apenas viu subir, atrás de<br />

Sebastião o policia, fez-se muito amarela, exclamou:<br />

— Credo! Que temos nós?<br />

Estava embrulhada num xale preto, e o candeeiro de petróleo, que ela<br />

erguia, prolongava na parede a sombra disforme da cuia.<br />

— Ó Sra. Juliana, faça o favor de acender luz na sala — disse Sebastião<br />

tranqüilamente.<br />

Ela fixava no polícia um olhar faiscante e inquieto.<br />

— Ó senhor, que aconteceu? Credo! Os senhores não estão em casa. Eu se<br />

soubesse nem tinha aberto... Há alguma novidade? Olha o propósito!<br />

— Não é nada... — disse Sebastião, abrindo a porta da sala. — Tudo em<br />

paz.<br />

... Ele mesmo acendeu com um fósforo uma vela na serpentina — que fez<br />

sair vagamente da sombra os dourados dos caixilhos das gravuras, a pálida face do<br />

retrato da mãe de Jorge, um reflexo de espelho.<br />

— Ó Sr. Mendes, sente-se, sente-se!<br />

O Mendes colocou-se à beira da cadeira com a mão na cinta, o terçado<br />

entre os joelhos, muito soturno.<br />

— Esta é que é a pessoa — disse Sebastião indicando Juliana, que ficara à<br />

porta da sala atônita.<br />

A mulher recuou, lívida:<br />

— Ó senhor Sebastião, que brincadeira é esta?<br />

— Não é nada, não é nada...<br />

Tomou-lhe o candeeiro da mão, e tocando-lhe no braço:<br />

— Vamos lá dentro à sala de jantar.<br />

261

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!