O Primo Basílio - Unama
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— Sim... Tinham começado por ler, mas depois... Quel giorno più non vi<br />
leggemmo avante, o que quer dizer: — "E nós não lemos mais em todo o dia!"<br />
— Puseram-se a derriçar — disse D. Felicidade com um sorriso.<br />
— Pior, minha rica senhora, pior! Porque segundo a mesma confissão de<br />
Francesca, este moço, o da guedelha, o cunhado, La boca me bacciò tutto tremante,<br />
o que significa: — "A boca me beijou tremendo todo..."<br />
— Ah! — fez D. Felicidade, com um olhar rápido para o Conselheiro.<br />
— É uma novela?<br />
— É o Dante, D. Felicidade — acudiu com severidade o Conselheiro —, um<br />
poema épico classificado entre os melhores. Inferior, porém, ao nosso Camões! Mas<br />
rival do famoso Mílton!<br />
— Que nessas histórias estrangeiras os maridos matam sempre as mulheres!<br />
— exclamou ela. E voltando-se para o Conselheiro: — Pois não é verdade?<br />
— Sim, D. Felicidade, repetem-se lá fora com freqüência essas tragédias<br />
domésticas. O desenfreamento das paixões é maior. Mas entre nós, digamo-lo com<br />
orgulho, o lar é muito respeitado. Assim eu, por exemplo, em todas as minhas<br />
relações em Lisboa, que são numerosas, graças a Deus, não conheço senão esposas<br />
modelos. — E com um sorriso cortesão: — De que é decerto a flor a dona da casa.<br />
D. Felicidade revirou os olhos para Luísa que estava encostada à cadeira<br />
dela, e batendo-lhe no braço:<br />
— Isto é uma jóia! — disse com amor.<br />
— E de resto — acudiu o Conselheiro — o nosso Jorge merece-o. Porque,<br />
como diz o poeta:<br />
Seu coração é nobre, e a fronte altiva.<br />
Revela-lhe da alma a pura essência.<br />
Aquela conversação impacientava Luísa. Ia sentar-se ao piano, quando D.<br />
Felicidade exclamou: — Dize cá, então não se toma hoje chá nesta casa?<br />
Luísa foi outra vez à cozinha. Disse a Joana que viesse ela mesma com o<br />
chá. — E daí a pouco Joana, de avental branco, vermelha, muito atarantada, entrou<br />
com o tabuleiro.<br />
casa...<br />
— E a Juliana? — perguntou logo D. Felicidade.<br />
— Saiu, coitada — explicou, Luísa -, tem andado doente...<br />
— E anda-te então por fora até estas horas?... Boa! Até desacredita uma<br />
O Conselheiro também achava imprudente:<br />
— Porque enfim as tentações são grandes numa capital, minha senhora!<br />
Julião exclamou, rindo:<br />
— Não, se aquela é tentada, descreio para sempre e totalmente, dos meus<br />
contemporâneos.<br />
— Oh, Sr. Zuzarte! — acudiu o Conselheiro, quase severamente — referiame<br />
a outras tentações: entrar, por exemplo, numa loja de bebidas, apetecer-lhe ir ao<br />
circo e desleixar os seus deveres...<br />
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