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O Primo Basílio - Unama

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— O que o empresário quer é que o marido lhe perdoe...<br />

Foi um espanto:<br />

www.nead.unama.br<br />

— Ora essa! É extraordinário! Por quê?<br />

— Então! — exclamou Ernestinho encolhendo os ombros — diz que o<br />

público que não gosta! Que não são coisas cá para o nosso país...<br />

— A falar a verdade — disse o Conselheiro —, a falar a verdade, Sr.<br />

Ledesma, o nosso público não é geralmente afeto a cenas de sangue.<br />

— Mas não há sangue, Sr. Conselheiro! — protestava Ernestinho erguendose<br />

sobre os bicos dos sapatos —, mas não há sangue! É com um tiro! E com um tiro<br />

pelas costas, Sr. Conselheiro!<br />

Luísa fez a D. Felicidade — "psiu!" e, num aparte, com um sorriso.<br />

— Desses bolinhos de ovos. São muito frescos.<br />

Ela respondeu, com uma voz lamentosa:<br />

— Ai, filha, não!<br />

E indicou o estômago, compungidamente.<br />

No entanto o Conselheiro aconselhava a Ernestinho a demência; tinha-lhe<br />

posto a mão no ombro paternalmente, e com uma voz persuasiva:<br />

— Dá mais alegria à peça, Sr. Ledesma. O espectador sai mais aliviado!<br />

Deixe sair o espectador aliviado!<br />

— Mais um bolinho, Conselheiro?<br />

— Estou repleto, minha prezada senhora.<br />

E, então, invocou a opinião de Jorge. Não lhe parecia que o bom Ernesto<br />

devia perdoar?<br />

— Eu, Conselheiro? De modo nenhum. Sou pela morte. Sou inteiramente<br />

pela morte. E exijo que a mates, Ernestinho!<br />

D. Felicidade acudiu, toda bondosa:<br />

— Deixe falar, Sr. Ledesma. Está a brincar. E ele então que é um coração<br />

de anjo!<br />

— Está enganada, D. Felicidade — disse Jorge, de pé diante dela. — Falo<br />

sério e sou uma fera! Se enganou o marido, sou pela morte. No abismo, na sala, na<br />

rua, mas que a mate. Posso lá consentir que, num caso desses, um primo meu, uma<br />

pessoa da minha família, do meu sangue, se ponha a perdoar como um lamecha!<br />

Não! Mata-a! É um princípio de família. Mata-a quanto antes!<br />

— Aqui tem um lápis, Sr. Ledesma — gritou Julião, estendendo-lhe uma<br />

lapiseira.<br />

O Conselheiro, então, interveio grave:<br />

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