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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Quis então dar uma volta pelo jardim. Sobre os canteiros borboletas<br />

brancas, amarelas, esvoaçavam; um gotejar de água fazia no tanque um ritmozinho<br />

de jardim burguês; um aroma de baunilha predominava; sobre a cabeça dos bustos<br />

de mármore, que se elevam dentre os maciços e as moitas de dálias, pássaros<br />

pousavam.<br />

Luísa gostava daquele jardinzinho, mas embirrava com as grades tão altas...<br />

— Por causa dos suicídios! — acudiu logo o Conselheiro. — E todavia,<br />

segundo a sua opinião, os suicídios em Lisboa diminuíam consideravelmente;<br />

atribuía isso à maneira severa e muito louvável como a imprensa os condenava...<br />

— Porque em Portugal, creia isto, minha senhora, a imprensa é uma força!<br />

— Se fôssemos andando?... — lembrou Luísa.<br />

O Conselheiro curvou-se, mas vendo-a, a ir colher uma flor, reteve-lhe<br />

vivamente o braço:<br />

— Ah, minha rica senhora, por quem é! Os regulamentos são muito<br />

explícitos! Não os infrinjamos, não os infrinjamos! — E acrescentou: — O exemplo<br />

deve vir de cima.<br />

Foram subindo, e Luísa pensava: — "Vai para casa; larga-me ao Loreto."<br />

Na Rua de São Roque espreitou o relógio de uma confeitaria: era meia hora<br />

depois do meio-dia! Já <strong>Basílio</strong> esperava!<br />

Apressou o passo, ao Loreto parou. O Conselheiro olhou-a, sorrindo,<br />

esperando.<br />

— Ah! Pensei que ia para casa, Conselheiro!<br />

— Já agora quero acompanhá-la, se Vossa Excelência mo permite. Decerto<br />

não sou indiscreto?<br />

— Ora essa! De modo nenhum.<br />

Uma carruagem da Companhia passava, seguida de um correio a trote.<br />

O Conselheiro, com um movimento ansioso, tirou profundamente o chapéu.<br />

— É o presidente do conselho. Não viu? Fez-me um sinal de dentro. —<br />

Começou logo o seu elogio: era o nosso primeiro parlamentar; vastíssimo talento,<br />

uma linguagem muito castigada! — E ia decerto falar das coisas públicas, mas Luísa<br />

atravessou para os Mártires, erguendo um pouco o vestido por causa de uns restos<br />

de lama. Parou à porta da igreja, e sorrindo:<br />

— Vou aqui fazer uma devoçãozinha. Não o quero fazer esperar. Adeus,<br />

Conselheiro, apareça. — fechou a sombrinha, estendeu-lhe a mão.<br />

— Ora essa, minha rica senhora! Esperarei, se vir que não se demora muito.<br />

Esperarei, não tenho pressa. — E com respeito: — Muito louvável esse zelo!<br />

Luísa entrou na igreja desesperada. Ficou de pé debaixo do coro, calculando:<br />

— "Demoro-me aqui, ele cansa-se de esperar e vai-se!" Por cima reluziam vagamente<br />

os pingentes de cristal dos lustres. Havia uma luz velada, igual, um pouco fosca. E as<br />

arquiteturas caiadas, a madeira muito lavada do soalho, as balaustradas laterais de<br />

pedra davam uma tonalidade clara e alvadia, onde destacavam os dourados da<br />

capela, os frontais roxos dos púlpitos, ao fundo dois reposteiros de um roxo mais<br />

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