16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— E a senhora agora é andar-me direita, senão eu lhas cantarei!...<br />

E voltou as costas, batendo os tacões.<br />

Luísa olhou em roda, como se um raio tivesse atravessado o quarto; mas<br />

tudo estava imóvel e correto; nem uma prega das cortinas se movera, e os dois<br />

pastorinhos de porcelana sobre o toucador sorriam pretensiosamente.<br />

Então tirou o roupão violentamente, passou um vestido sem apertar o<br />

corpete, vestiu por cima um casaco largo de inverno, atirou o chapéu para a cabeça<br />

despenteada, saiu, desceu a rua tropeçando nas saias, quase a correr.<br />

O Paula saltou para o meio da rua para a seguir; viu-a parar à porta de<br />

Sebastião, e veio dizer à estanqueira:<br />

— Em casa do Engenheiro há novidade!<br />

E ficou plantado à porta com os olhos cravados para as janelas abertas,<br />

onde as bambinelas de repes verdes caiam com as suas pregas imóveis.<br />

— O Sr. Sebastião? — perguntava Luísa à rapariguita sardenta, que correra<br />

a abrir a porta.<br />

E ia entrando pelo corredor.<br />

— Na sala — disse a pequena.<br />

Luísa subiu; sentia sons de piano; abriu violentamente a porta e correndo<br />

para ele, apertando as mãos contra o peito, numa voz angustiosa e sumida:<br />

— Sebastião, escrevi uma carta a um homem, a Juliana apanhou-ma. Estou<br />

perdida!<br />

Ele ergueu-se devagar, assombrado, muito branco; viu-lhe o rosto<br />

manchado, o chapéu malposto, a aflição do olhar.<br />

— Que é? Que é?<br />

— Escrevi a meu primo — repetiu, com os olhos cravados nele,<br />

ansiosamente — a mulher apanhou-me a carta... Estou perdida!<br />

Fez-se muito pálida, os olhos cerraram-se-lhe.<br />

Sebastião amparou-a, levou-a meio desmaiada para o sofá de damasco<br />

amarelo. E ficou de pé, mais descorado que ela, com as mãos nos bolsos do seu<br />

jaquetão azul, imóvel, estúpido.<br />

De repente correu fora, trouxe um copo de água, borrifou-lhe o rosto ao<br />

acaso. Ela abriu os olhos, as suas mãos errantes apalparam em redor, fitou-o<br />

espantada, e deixando-se cair sobre o braço do canapé, com o rosto escondido nas<br />

mãos, rompeu num choro histérico.<br />

O seu chapéu caíra. Sebastião apanhou-o, sacudiu-lhe delicadamente as<br />

flores, pô-lo sobre a jardineira com cuidado; e vindo nas pontas dos pés debruçar-se<br />

junto dela:<br />

— Então! Então! — murmurava. E as suas mãos, tocando-lhe de leve o<br />

braço, tremiam como folhas.<br />

248

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!