16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Como se sente? Quer um caldinho? É fraqueza; há de ser fraqueza... Foi<br />

a pontada — murmurou Juliana.<br />

Ai! Aqueles frenesis matavam-na! — dizia a cozinheira, remexendo-lhe o<br />

caldo, muito pálida também. — A gente tinha de aturar os amos! Que tomasse a<br />

"substância", que sossegasse!...<br />

Naquele momento Luísa abriu a porta. Vinha em colete e saia branca.<br />

Que barulho era aquele?<br />

A Sra. Juliana, que lhe tinha dado uma coisa, quase desmaiara...<br />

Foi a pontada — balbuciou Juliana.<br />

E erguendo-se, com um esforço:<br />

— Se a senhora não precisa nada, vou ao médico...<br />

— Vá, vá! disse Luísa logo. E desceu.<br />

Juliana pôs-se a tomar o seu caldo com um vagar moribundo. Joana<br />

consolava-a baixo: — Também, a Sra. Juliana arrenegava-se por qualquer coisa. E<br />

quando a gente tem pouca saúde não há nada pior que enfrenesiar-se...<br />

— É que não imagina! — e abafava a voz arregalando os olhos. — Tem<br />

estado de não se poder aturar! Está-se a vestir que nem para uma partida!<br />

Amarfanhou uns poucos de colares, atirou-os para o chão, que eu engomava que era<br />

uma porcaria, que não servia para nada... Ai! Estou farta! — repetia. — Estou farta!<br />

— É ter paciência! Todos têm a sua cruz!<br />

Juliana teve um sorriso lívido, ergueu-se com um grande "ai", escabichou os<br />

dentes, apanhou a roupa suja, e subiu ao sótão.<br />

Daí a pouco, de luvas pretas, muito amarela, saiu.<br />

Ao dobrar a esquina da rua, defronte do estanque, parou indecisa. Até ao<br />

médico era um estirão!... E estava, que lhe tremiam as pernas!... Mas também,<br />

largar três tostões para trem!...<br />

— Psiu, psiu! — fez do lado uma voz doce.<br />

Era a estanqueira, com o seu longo vestido de luto tingido, o seu sorriso<br />

desconsolado.<br />

Que era feito da Sra. Juliana? A dar o seu passeio, hein?<br />

Gabou-lhe a sombrinha preta de cabo de osso. De muito gosto — disse.<br />

— E como ia de saúde?<br />

Mal. Dera-lhe a pontada. Ia ao médico...<br />

Mas a estanqueira não tinha fé nos médicos. Era dinheiro deitado à rua...<br />

Citou a doença do seu homem, os gastos, um ror de moedas. E para quê? Para o<br />

ver penar e morrer como se nada fosse! Era um dinheiro que sempre chorava!<br />

E suspirou. Enfim, fosse feita a vontade de Deus! E lá por casa do senhor<br />

engenheiro?<br />

— Tudo sem novidade.<br />

— Ó Sra. Juliana, quem é aquele rapaz que vai agora por lá todos os dias?<br />

90

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!