16.04.2013 Views

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

O Primo Basílio - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

filhos agradecem. Não se incomode Vossa Senhoria. O sessenta e quatro, O<br />

Mendes, que foi da Guarda!<br />

Sebastião fechou a cancela, voltou à sala de jantar. Juliana ficara numa<br />

cadeira, aniquilada; mas apenas o viu, erguendo-se furiosamente:<br />

— A bêbeda foi-lhe contar tudo! Foi você que arranjou a armadilha! Também<br />

você dormiu com ela!...<br />

Sebastião, muito branco, dominava-se.<br />

— Vá pôr o chapéu, mulher. O Sr. Jorge despediu-a. Amanhã mandará<br />

buscar os baús...<br />

— Mas o homem há de saber tudo! — berrou ela. — Este teto me rache se<br />

eu não lhe disser tudo tintim por tintim. Tudo! As cartas que recebia, onde ia ver o<br />

homem. Deitava-se com ela na sala, até os pentes lhe caíam na balbúrdia. Até a<br />

cozinheira lhes sentia o alarido!<br />

— Cale-se! — bradou Sebastião com uma punhada na mesa, que fez tremer<br />

toda a louça do aparador e esvoaçar os canários. E com a voz toda trêmula, os<br />

beiços brancos: — A polícia tem o seu nome, sua ladra! A menor palavra que você<br />

diga vai para o Limoeiro, e pela barra fora. Você não roubou só as cartas; roubou<br />

roupas, camisas, lençóis, vestidos... — Juliana ia falar, gritar. — Bem sei —<br />

continuou ele violentamente, — deu-lhes ela, mas à força, porque você a ameaçava.<br />

Você arrancou-lhe tudo. É roubo. É de África! — É o que é dizer ao Jorge, pode ir<br />

dizer. Vá. Veja se ele a acredita. Diga! São algumas bengaladas que leva por esses<br />

ombros, sua ladra!<br />

Ela rangia os dentes; Estava apanhada! Eles tinham tudo por si, a polícia, a<br />

Boa Hora, a cadeia, a África!... E ela — nada!<br />

Todo o seu ódio contra a Piorrinha fez explosão. Chamou-lhe os nomes mais<br />

obscenos. Inventou infâmias.<br />

— É que nem as do Bairro Alto! E eu — gritava — sou uma mulher de bem,<br />

nunca um homem se pode gabar de tocar neste corpo. Nunca houve raio nenhum<br />

que me visse a cor da pele. E a bêbeda!... — Tinha arremessado o xale, alargou<br />

ansiosamente o colar do vestido. — Era um desaforo por essa casa! E o que eu<br />

passei com a bruxa da tia! É o pago que me dão! Os diabos me levem se eu não for<br />

para os jornais. Vi-a eu abraçada ao janota, como uma cabra!<br />

Sebastião a seu pesar escutava-a, com uma curiosidade dolorosa por<br />

aqueles pormenores; sentia desejos agudos de a esganar, e os seus olhos<br />

devoravam-lhe as palavras. Quando ela se calou arquejante:<br />

— Vá, ponha o chapéu, e para a rua!<br />

Juliana então alucinada de raiva, com os olhos saídos das órbitas, veio para<br />

ele e cuspiu lhe na cara!<br />

Mas de repente a boca abriu-se-lhe desmedidamente, arqueou-se para trás,<br />

levou com ânsia as mãos ambas ao coração, e caiu para o lado, com um som mole,<br />

como um fardo de roupa.<br />

263

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!