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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Eu não suponho nada — repetiu Julião baixinho. — Eu afirmo o que ele<br />

faz. Agora ela...<br />

E acrescentou com secura:<br />

— Como é uma rapariga honesta...<br />

— Se é! — exclamou Sebastião, batendo uma punhada na pedra da mesa.<br />

— Pronto! — cantou arrastadamente o moço.<br />

O velho calvo ergueu-se logo; mas vendo que o criado se recolhia ao balcão<br />

bocejando, e que os dois continuavam a remexer a sua carapinhada, encostou os<br />

cotovelos à mesa, salivou para longe, e puxando o jornal deixou-lhe cair em cima um<br />

olhar desolado.<br />

Sebastião disse, então, com tristeza:<br />

— A questão não é por ela. A questão é pela vizinhança.<br />

Ficaram um momento calados. A altercação de vozes no bilhar crescia.<br />

— Mas — disse Julião, como saindo de uma reflexão — a vizinhança?<br />

— Sim, homem! Vêem entrar para lá o rapaz. Vem de tipóia; faz um<br />

escândalo na rua. Já se fala. Já vieram com mexericos à tia Joana. Há dias<br />

encontrei o Neto que reparou. O Cunha também. O homem dos trastes, embaixo,<br />

não se faz nada que ele não dê fé; são umas línguas de tremer. Há dias ia eu a<br />

passar quando o primo se apeou da carruagem para entrar, e foram logo<br />

conciliábulos na rua, olhadelas para a janela, o diabo! Vai lá todos os dias. Sabem<br />

que o Jorge está no Alentejo... Está duas e três horas. É muito sério, é muito sério!<br />

— Mas ela então é tola!<br />

— Não vê o mal...<br />

Julião encolheu os ombros, duvidando.<br />

Mas a porta de baeta do bilhar abriu-se; um homem hercúleo, de bigode<br />

negro, muito escarlate, saiu bruscamente, e parando, segurando a porta aberta,<br />

gritou para dentro:<br />

— E fique sabendo que havia de encontrar homem!<br />

Uma voz grossa, do bilhar, respondeu-lhe uma obscenidade.<br />

O sujeito hercúleo atirou a porta, furioso; atravessou o café resfolegando,<br />

apoplético; um rapaz chupado, de jaquetão de inverno e calça branca, seguia-o, com<br />

um ar gingado.<br />

— O que eu devia fazer — exclamava o agigantado, brandindo o punho —<br />

era quebrar a cara àquele pulha!<br />

O rapaz chupado dizia, com doçura e servilismo, bamboleando-se:<br />

— Questões não servem para nada, Sô Correia!<br />

— É que sou muito prudente — berrou o hercúleo. — É que me lembro<br />

tenho mulher e filhos! Se não bebia-lhe o sangue!<br />

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