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O Primo Basílio - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— São tolices, no fim, andar, viajar! A única coisa neste mundo é a gente<br />

estar na sua casa, com o seu homem, um filho ou dois...<br />

Leopoldina deu um salto na voltaire. Filhos! Credo, que nem falasse em<br />

semelhante coisa! Todos os dias dava graças a Deus em os não ter!<br />

— Que horror! — exclamou com convicção. — O incômodo todo o tempo<br />

que se está!... As despesas! Os trabalhos, as doenças! Deus me livre! É uma prisão!<br />

E depois quando crescem, dão fé de tudo, palram, vão dizer... Uma mulher com<br />

filhos está inútil para tudo, está atada de pés e mãos! Não há prazer na vida. E estar<br />

ali a aturá-los... Credo! Eu? Que Deus não me castigue, mas se tivesse essa<br />

desgraça parece-me que ia ter com a velha da Travessa da Palha!<br />

— Que velha? — perguntou Luísa.<br />

Leopoldina explicou. Luísa achava uma infâmia. A outra encolheu os<br />

ombros, acrescentou:<br />

— E depois, minha rica, é que uma mulher estraga-se; não há beleza de<br />

corpo que resista. Perde-se o melhor. Quando se é como a tua amiga, a D.<br />

Felicidade, enfim!... Mas quando se é direitinha e arranjadinha!... Nada, minha rica!<br />

Embaraços não faltam!<br />

Por baixo, na rua, o realejo do bairro, no seu giro da tarde, veio tocar o final<br />

da Traviata; ia escurecendo; já as verduras dos quintais tinham uma igual cor parda;<br />

e as casas para além esbatiam-se na sombra.<br />

A Traviata lembrou a Luísa a Dama das camélias; falaram do romance;<br />

recordaram episódios...<br />

— Que paixão que eu tive por Armando em rapariga! — disse Leopoldina.<br />

— E eu foi por D'Artagnan — exclamou ingenuamente Luísa.<br />

Riram muito.<br />

— Começamos cedo — observou Leopoldina. — Dá-me uma gotinha mais.<br />

Bebeu, pousou o cálice — e encolhendo os ombros:<br />

— Oh! Começamos cedo? Começam todas! Aos treze anos já a gente vai na<br />

sua quarta paixão. Todas são mulheres, todas sentem o mesmo! — E batendo o<br />

compasso com o pé, cantou, no tom do fado:<br />

— O amor é uma doença. Que costuma andar no ar; Só d'ir à janela às<br />

vezes S'apanha a febre d'amar!<br />

— Estou hoje com uma telha! — E espreguiçando-se muito languidamente:<br />

— No fim de contas é o que há de melhor neste mundo; o resto é uma sensaboria!<br />

Não é verdade? Dize, tu! Não é verdade?<br />

Luísa murmurou:<br />

— Se é! — E acrescentou logo: — Creio eu!<br />

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