desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
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Estabelecer a distinção entre os componentes – <strong>na</strong>tural/biológico em<br />
relação a sexo e social/cultural em relação a gênero – foi, e continua sendo,<br />
um recurso utilizado pelos estudos <strong>de</strong> gênero para <strong>de</strong>stacar essencialismo<br />
<strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m que há séculos sustentam argumentos biologizantes para<br />
<strong>de</strong>squalificar as <strong>mulheres</strong>, corporal, intelectual e moralmente (CITELI, 2001,<br />
p. 132).<br />
Pedro (2005) afirma que a categoria gênero foi criada <strong>na</strong> efervescência da<br />
segunda onda do Feminismo, e aparece formalmente pela primeira vez em 1968 no<br />
livro Sex and Gen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Robert Stoller, empregada em oposição à palavra “sexo”.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que a categoria foi sendo construída <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> aspectos históricos,<br />
sociais e culturais, <strong>na</strong>s relações, levando em conta as diferenças construí<strong>das</strong> e não<br />
as biológicas, <strong>na</strong>s socieda<strong>de</strong>s e nos diversos momentos históricos.<br />
Passamos a perceber que o universo feminino é muito diferente do<br />
masculino, não simplesmente por <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções biológicas, como propôs o<br />
século XIX, mas sobretudo por experiências históricas marca<strong>das</strong> por<br />
valores, sistemas <strong>de</strong> pensamento, crenças e simbolizações diferencia<strong>das</strong><br />
também sexualmente. O gênero tornou-se um instrumento valioso <strong>de</strong><br />
análise que permite nomear e esclarecer aspectos da vida h<strong>uma</strong><strong>na</strong> (RAGO,<br />
1998, p. 96).<br />
Louro concorda com essa perspectiva e acrescenta que todos os <strong>de</strong>bates<br />
concentrados em torno do que se construiu socialmente sobre os sexos dá espaço a<br />
<strong>uma</strong> nova caracterização expressa por “<strong>uma</strong> nova linguagem <strong>na</strong> qual gênero será<br />
um conceito fundamental” (LOURO, 2007, p. 21. Grifo da autora.). Nesse sentido, o<br />
termo gênero atendia à expectativa da própria aca<strong>de</strong>mia que ainda relutava em abrir<br />
suas portas a estudos sobre as <strong>mulheres</strong> 13 .<br />
Po<strong>de</strong>-se falar que o termo no entanto não teve <strong>uma</strong> concepção única. Costa<br />
(1994) apresenta as inúmeras concepções atribuí<strong>das</strong> ao termo gênero: primeiro<br />
concebido como variável binária, posteriormente como papéis dicotomizados, em<br />
seguida como <strong>uma</strong> variável psicológica e como sistemas culturais, e só mais tar<strong>de</strong> o<br />
termo será entendido como relacio<strong>na</strong>l.<br />
Para Scott (1995, p. 72), gênero é constituinte <strong>das</strong> relações sociais que se<br />
estabelecem sobre as diferenças entre sexo feminino e masculino, e “<strong>uma</strong> forma<br />
primária <strong>de</strong> dar significado às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r”. Sua concepção traz a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />
13 Acrescentamos que houve alguns casos <strong>de</strong> exceção, como por exemplo o <strong>de</strong> Eva Alterman Blay,<br />
teórica feminista que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1960 realiza seus estudos a respeito da sociologia do<br />
trabalho, violência contra a mulher, relações sociais <strong>de</strong> gênero, entre outros temas, <strong>de</strong>ntro da<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.