desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
43<br />
conhecimentos em Ciência e tecnologia que não ape<strong>na</strong>s não são úteis para<br />
as <strong>mulheres</strong> e outros segmentos subordi<strong>na</strong>dos, como vêm alimentando e<br />
reforçando as hierarquias <strong>de</strong> gênero, bem como outras hierarquias sociais<br />
(apud SARDENBERG, 2007, s.p.).<br />
O prejuízo não está somente <strong>na</strong> produção/concepção <strong>de</strong>stes saberes, mas<br />
inclusive no seu uso ou aproveitamento por aqueles e aquelas que não fizeram parte<br />
do processo <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> maneira. Conclui-se que<br />
a predominância masculi<strong>na</strong> nos meios ditos científico-acadêmicos tem<br />
contribuído para a reprodução do viés androcêntrico <strong>na</strong> escolha e <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> problemas para investigação, bem como no <strong>de</strong>senho metodológico <strong>das</strong><br />
pesquisas e interpretação dos resultados (SARDENBERG, 2007, s.p.).<br />
Nesse caso, questões iniciais como o que pesquisar, que tecnologias usar<br />
ou produzir, não sofriam (ou sofrem) intervenção <strong>de</strong> diferentes sujeitos e suas<br />
especificida<strong>de</strong>s. Se manti<strong>das</strong> nos redutos, aquelas questões dificilmente se<br />
encaixariam em necessida<strong>de</strong>s reais dos sujeitos interessados(as). Isso diz respeito a<br />
não neutralida<strong>de</strong> e impessoalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> C&T, justificando a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
conceber os fazeres científicos como sendo neutros, mas sendo sobretudo<br />
ativida<strong>de</strong>s intencio<strong>na</strong>is, visando a interesses <strong>de</strong> <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> específica. Essas<br />
discussões só foram possíveis graças ao que se convencionou chamar Estudos<br />
Sociais da Ciência e Tecnologia, que, <strong>de</strong>ntre outras questões, questionou a<br />
neutralida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>terminismo científico e as características atribuí<strong>das</strong> a estas<br />
áreas 25 .<br />
A ativida<strong>de</strong> científica, <strong>de</strong> forma geral, é apresentada como dotada <strong>de</strong><br />
universalida<strong>de</strong>, neutralida<strong>de</strong>, impessoalida<strong>de</strong>, ignorando que, por ser <strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong><br />
feita por pessoas, diz respeito a escolhas. Conforme Winner (1996) e Gorz (1979),<br />
as pessoas são seres sociais e políticos, e ser político implica em escolhas e essas<br />
vão <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ndo os campos científico e tecnológico <strong>de</strong> acordo com seus agentes.<br />
Bourdieu (1983), nessa mesma lógica, <strong>de</strong>screve o campo científico como um<br />
lugar <strong>de</strong> luta política pela domi<strong>na</strong>ção científica, que <strong>de</strong>sig<strong>na</strong> a cada<br />
pesquisador, em função da posição que ele ocupa, seus problemas,<br />
indissociavelmente políticos e científicos, e seus métodos [...]. Não há<br />
“escolha” científica – do campo da pesquisa, dos métodos empregados, do<br />
25 Autores como Bazzo, Linsingen e Teixeira (2003), Cutcliffe (2003), Mackenzie e Wajcman (1996),<br />
Marx e Smith (1996), Gorz (1979) e Winner (1996) se <strong>de</strong>stacaram por tratar do tema.