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desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR

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76<br />

Tendo como foco os campos da Ciência e da Tecnologia, pensaremos neste<br />

capítulo como a universida<strong>de</strong> se configura chave <strong>de</strong> um cenário favorável às<br />

<strong>mulheres</strong>, já que escolarização e formação foram historicamente os principais<br />

fatores impulsio<strong>na</strong>ntes para elas.<br />

Melo e Rodrigues (2006) 60 preocuparam-se por contextualizar um momento<br />

em que ainda são poucas as que se <strong>de</strong>stacam <strong>na</strong>s carreiras científicas, são poucas<br />

as bolsas para estudo e pesquisa a elas <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>das</strong> e é baixo o número <strong>das</strong> que<br />

chegam ao topo da carreira. Na contramão, aquelas que conseguem chegar à<br />

universida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>dicar-se a carreiras científico-tecnológicas acabam segrega<strong>das</strong> em<br />

âmbitos culturalmente impostos.<br />

Leta e Martins (2008, p. 85) acreditam que as universida<strong>de</strong>s mantiveram<br />

configurações <strong>das</strong> primeiras instituições que traziam consigo características <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

socieda<strong>de</strong> que se organizava <strong>de</strong> tal maneira a oprimir aqueles que não faziam parte<br />

da produção <strong>de</strong> conhecimento. Elas teriam sido “ergui<strong>das</strong> sob os princípios da<br />

hierarquia clerical, com o intuito <strong>de</strong> garantir a reprodução e o controle do saber<br />

autorizado pelos po<strong>de</strong>res vigentes”.<br />

Alguns dados estatísticos apontam que no fi<strong>na</strong>l do século XX as <strong>mulheres</strong><br />

continuavam optando mais pelas chama<strong>das</strong> carreiras soft 61 , como por exemplo, as<br />

Ciências Sociais e H<strong>uma</strong><strong>na</strong>s, enquanto que <strong>na</strong>s chama<strong>das</strong> carreiras hard, como<br />

Ciências Exatas e Engenharias, o percentual <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> ficava <strong>na</strong> casa dos 13%<br />

em média (SILVA, 2000).<br />

60 No livro Pioneiras da Ciência no Brasil, Hil<strong>de</strong>te Pereira <strong>de</strong> Melo e Lígia Maria Rodrigues fazem um<br />

breve apanhado <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> cientistas que se formaram no Brasil <strong>na</strong> primeira meta<strong>de</strong> do século XX.<br />

No total foram ape<strong>na</strong>s 19, <strong>de</strong>ssas, 6 não são brasileiras, somente <strong>de</strong>senvolveram suas ativida<strong>de</strong>s<br />

aqui, outras 5 são filhas <strong>de</strong> estrangeiros, 2 eram filhas <strong>de</strong> professores e outras 2 tiveram como<br />

incentivadores seus próprios maridos; as autoras justificam que citam suas origens e/ou<br />

incentivadores para mostrar que o meio foi um fator <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte para a carreira <strong>de</strong>stas “pioneiras”.<br />

61 Esta diferenciação entre softs e hards foi <strong>de</strong>finida por Schiebinger (2001, p. 296): “as chama<strong>das</strong><br />

Ciências hard são ti<strong>das</strong> como „imparciais‟, distantes, abstratas e quantitativas, enquanto as Ciências<br />

soft são consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong> „compassivas‟ e qualitativas, talvez introspectivas, e próximas <strong>das</strong><br />

preocupações cotidia<strong>na</strong>s.”. A autora explica que “A „dureza‟ é pensada como <strong>de</strong>finindo <strong>uma</strong><br />

hierarquia <strong>das</strong> Ciências” (p. 297). A física estaria em primeiro lugar em relação à dificulda<strong>de</strong> que<br />

exige <strong>de</strong> seus aspirantes. A problemática é que os “métodos a<strong>na</strong>líticos e suposta capacida<strong>de</strong> para<br />

reduzir fenômenos complexos a princípios simples foram tomados como o mo<strong>de</strong>lo ao qual to<strong>das</strong> as<br />

outras Ciências <strong>de</strong>vem aspirar” e fez com que mesmo as h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>s passassem “por um período<br />

<strong>de</strong> intenso cientificismo <strong>na</strong> década <strong>de</strong> 1970, quando o objetivo era quantificar o empenho h<strong>uma</strong>no <strong>na</strong><br />

maior medida possível no sentido <strong>de</strong> chegar a <strong>uma</strong> maior certeza e respeito institucio<strong>na</strong>l”<br />

(SCHIEBINGER, 2001, p. 298). Nesse sentido as carreiras hards teriam mais prestígio e um número<br />

menor <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong>, enquanto que <strong>na</strong>s mais softs encontramos mais <strong>mulheres</strong> (SCHIEBINGER,<br />

2001).

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