desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
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o salário do marido <strong>de</strong>veria sustentar a família;<br />
o salário da mulher era insuficiente, mesmo para sustentar-se a si própria;<br />
nem o trabalho doméstico nem o remunerado da mãe eram visíveis, ou como<br />
prefere dizer a autora, “relevantes”;<br />
o trabalho <strong>das</strong> <strong>mulheres</strong> não produziria o que ela chamou “valor econômico”<br />
significativo.<br />
Além <strong>de</strong> receberem salários menores que os dos homens, outras eram as<br />
razões porque alguns preferiam empregar <strong>mulheres</strong> – quase sempre basea<strong>das</strong> no<br />
<strong>de</strong>terminismo biológico:<br />
No ensino e <strong>na</strong> enfermagem consi<strong>de</strong>rava-se que as <strong>mulheres</strong> exprimiam a<br />
sua <strong>na</strong>tureza carinhosa; a dactilografia era comparada a tocar piano; as<br />
tarefas <strong>de</strong> escritório ajustavam-se supostamente à sua <strong>na</strong>tureza submissa,<br />
à sua capacida<strong>de</strong> para tolerar tarefas repetitivas e ao seu gosto pelo<br />
pormenor (SCOTT, 1994, p. 462).<br />
No caso <strong>de</strong> atuarem no ensino público, Scott cita um exemplo da primeira<br />
meta<strong>de</strong> do século XIX nos EUA; ao preten<strong>de</strong>r-se diminuir custos com a educação<br />
pública, iniciou-se o recrutamento <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong>, com a justificativa <strong>de</strong> que elas<br />
“possuíam <strong>uma</strong> pulsão aquisitiva e trabalhariam por salários <strong>de</strong> subsistência”<br />
(CONWAY, 1987 apud SCOTT, 1994, p. 462). Isso aconteceu também em outras<br />
áreas <strong>de</strong> serviços: contratar <strong>mulheres</strong> era sinônimo <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> custos 56 .<br />
De certa maneira isso contribuiu para que os homens fossem impelidos a<br />
outros postos, e com isso tivessem <strong>uma</strong> ascensão profissio<strong>na</strong>l, configurando<br />
espaços em que elas eram maioria e espaços a que elas não chegariam. O<br />
processo segregatório e hierarquizante estava instalado e, conforme Scott (1994, p.<br />
464), parecia confirmar-se dia a dia, sendo tomado como “prova da existência prévia<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> divisão sexual do trabalho „<strong>na</strong>tural‟”. Aceitava-se e justificava-se<br />
biologicamente a inferiorida<strong>de</strong> <strong>das</strong> <strong>mulheres</strong> – seus “corpos, capacida<strong>de</strong>s produtivas<br />
e responsabilida<strong>de</strong>s sociais as tor<strong>na</strong>vam incapazes para o tipo <strong>de</strong> trabalho que lhes<br />
traria reconhecimento econômico e social como trabalhadoras ple<strong>na</strong>s” (SCOTT,<br />
1994, p. 474).<br />
56 A esse processo comumente se chama feminização <strong>de</strong> espaços e ativida<strong>de</strong>s. Nos interessa nesse<br />
sentido a feminização da função docente, tratada adiante.