algumas caracterÃsticas Especiais do Processo Civil Sueco - Emerj
algumas caracterÃsticas Especiais do Processo Civil Sueco - Emerj
algumas caracterÃsticas Especiais do Processo Civil Sueco - Emerj
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
significaria obrigatoriamente uma transgressão ao direito <strong>do</strong> contraditório<br />
(entre as partes) e da ampla defesa, sen<strong>do</strong> suficiente ao Juiz iniciar o<br />
debate e a controvérsia sobre a questão, intiman<strong>do</strong> as partes, sobretu<strong>do</strong><br />
o réu, para contestar a quantia, defender-se e produzir provas em favor<br />
de sua tese. Realmente, não pode o Juiz, no final <strong>do</strong> processo, tirar um<br />
número cabalístico de sua cartola, causan<strong>do</strong> surpresa à defesa, sob pena<br />
de rasgar o due process of law (art. 5º, LIV, da CR).<br />
Entretanto, discordan<strong>do</strong> dessa <strong>do</strong>utrina, surgem <strong>algumas</strong> indagações<br />
dignas de nota. Se para garantir o contraditório (sem que haja pedi<strong>do</strong><br />
expresso da vítima) a solução seria a intimação das partes, quem seriam<br />
essas partes Réu, sem dúvida. Mas a parte contrária seria o MP ou a vítima<br />
(convenhamos que o réu não contradita o Juiz) Penso que não caberia<br />
ao Parquet 4 se manifestar sobre este assunto, pois, incontroversamente,<br />
cuida-se de matéria patrimonial, haven<strong>do</strong> proibição constitucional na<br />
atuação ministerial nos casos de interesses individuais disponíveis (art.<br />
127 da CR). De mais a mais, a hipótese retratada se assemelharia muito<br />
com a <strong>do</strong> art. 68 <strong>do</strong> CPP (ação civil proposta pelo MP quan<strong>do</strong> a vítima é<br />
pobre), que o STF declarou inconstitucional (art. 134 da CR) 5 . Resta tão<br />
somente a alternativa de se intimar a vítima, titular da pretensão indenizatória.<br />
Ora, então a presença dela se tornaria obrigatória para que o Juiz<br />
de ofício pudesse fixar o valor mínimo reparatório. Se o seu comparecimento<br />
na relação processual penal é compulsório, de mo<strong>do</strong> a viabilizar o<br />
contraditório, seria mais aconselhável o Juiz intimar a vítima no início <strong>do</strong><br />
processo penal (ou o MP requerer nesse senti<strong>do</strong>), para formular pedi<strong>do</strong><br />
expresso 6 . Melhor <strong>do</strong> que fazer simples figuração. Aliás, intimada a vítima<br />
para formular o pedi<strong>do</strong>, esta poderia simplesmente consignar a sua renúncia<br />
à pretensão civil, pois cuida-se de direito disponível.<br />
Diga-se de passagem, que, além de ser mais prudente, tal procedimento<br />
respeita a inércia da jurisdição (princípio da congruência) 7 , a impar-<br />
4 Discordamos de Lima, Marcellus Polastri. Manual de <strong>Processo</strong> Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 3ª ed., p. 246<br />
(“Portanto, o Ministério Público já procurará fazer a prova <strong>do</strong> dano <strong>do</strong> delito, e o acusa<strong>do</strong>, saben<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio<br />
da adesão parcial obrigatória, carreará para os autos elementos que lhe aproveitarem, tu<strong>do</strong> visto e discuti<strong>do</strong> no<br />
processo”). (grifo nosso)<br />
5 STF, R. E. 147.776-8/SP, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 19/05/1998.<br />
6 Tourinho Filho, Fernan<strong>do</strong> da Costa. <strong>Processo</strong> Penal. São Paulo: Saraiva, 31ª ed., p. 337 (“Melhor seria devesse<br />
o legisla<strong>do</strong>r permitir à vítima <strong>do</strong> crime postular perante o juízo penal o seu direito à satisfação <strong>do</strong> dano”).<br />
(grifo nosso)<br />
7 TJRJ, 1ª C. C., Ap. 0013454-43.2008.8.19.0008 (2009.050.04517), Des. MARCO AURELIO BELLIZZE, Julgamento:<br />
19/08/2009 (“Fixação de quantum indenizatório. Ausência de pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> beneficiário e de prova que autorize a fixação<br />
da indenização. Violação <strong>do</strong> princípio da correlação. Recurso a que se dá parcial provimento”). (grifo nosso)<br />
262<br />
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 54, p. 259-270, abr.-jun. 2011